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Capítulo 4

Author: Estela Vieira
O rosto de Gabriela ficou imediatamente rígido. Ao ver o carro familiar do lado de fora, ela sentiu o pânico tomar conta de seus pensamentos.

Seus olhos delicados se voltaram para Luiza com um olhar furioso:

— Você fez de propósito? Fez isso de propósito, não foi?

— Gabriela, do que você está falando? Eu estava no andar de cima preparando um presente para o Ethan. Como pode me culpar por algo assim?

Os olhos de Luiza estavam levemente embaçados, brilhando como se ela tivesse sofrido a maior das injustiças.

Foi nesse momento que Marcelo, o mordomo da família Soares, entrou na casa. A visão que ele teve foi a de um ambiente em completo caos, algo que o fez franzir a testa. Ele olhou diretamente para Gabriela e disse:

— Sra. Gabriela, a Dona Paula me pediu para avisar: já que você não sabe educar seu filho, ela mesma vai precisar educar você.

Gabriela arregalou os olhos e balbuciou, incrédula:

— O quê?

Marcelo fez um gesto educado com a mão, indicando o lado de fora da casa:

— Por favor, vá até o jardim e fique de joelhos por três horas.

— Marcelo... — Luiza acabou de abrir a boca para falar algo.

Marcelo, no entanto, a interrompeu com um sorriso amável:

— Sra. Luiza, não precisa interceder em favor dela. Sei que você tem um coração bom, mas não diga nada. Aliás, você tem se esforçado muito, especialmente desde o funeral do Sr. Antônio. Por favor, cuide mais de sua saúde.

Luiza não tinha a intenção de interceder por Gabriela. O que ela queria perguntar era se Dona Paula já havia se recuperado um pouco, pois precisava encontrar um bom momento para conversar sobre o divórcio.

Embora o Grupo Soares fosse administrado por Ethan, todos os assuntos familiares sempre passavam pela aprovação de Dona Paula.

Gabriela, mesmo contrariada, não teve escolha a não ser ir para o jardim e se ajoelhar. Naquele frio congelante, não havia escapatória, e ela merecia.

Luiza não lançou sequer um olhar para Gabriela e virou-se para subir as escadas.

Maia, no entanto, parecia preocupada:

— Sra. Luiza, e a pintura? O que faremos com ela?

— Não se preocupe. Alguém virá buscá-la em breve. Ela será restaurada e depois devolvida. — Luiza respondeu de forma simples.

O que Luiza não contou a ninguém é que o quadro pendurado na casa era uma cópia. A obra original estava guardada em segurança na galeria de um amigo, intacta.

Afinal, antes de morrer, o maior desejo de Sr. João era que suas pinturas fossem vistas por mais pessoas. Deixar uma obra dessas trancada em casa seria um desperdício.

— Sua bruxa! — Michel gritou com ódio assim que Luiza colocou o pé no primeiro degrau da escada. — Eu já liguei para o tio Ethan! Quando ele voltar, você está acabada!

— Vou esperar. — Luiza respondeu com calma.

— Ele vai se divorciar de você! E aí você vai ser uma mulher rejeitada, uma inútil que ninguém quer!

Luiza deu uma risada leve:

— Ele não vai ouvir você.

Afinal, Ethan e Gabriela ainda precisavam dela como uma fachada. Se ele se divorciasse, Gabriela e o cunhado, dois adultos solteiros vivendo sob o mesmo teto, teriam suas reputações completamente destruídas.

Ethan nunca permitiria que algo assim acontecesse.

Ethan chegou mais rápido do que Luiza esperava.

Gabriela mal havia ficado ajoelhada por vinte minutos quando ele apareceu.

Com um longo casaco de lã preto que destacava ainda mais sua postura elegante e sua aura imponente, Ethan desceu do carro quase correndo. Ele foi direto até Gabriela, ajoelhada no jardim, e a pegou nos braços antes de entrar na casa com passos firmes.

Ele a colocou delicadamente no sofá da sala e começou a passar pomada nos joelhos avermelhados pelo frio. Seus olhos revelavam uma preocupação genuína, sem a menor tentativa de esconder isso.

— Você é uma tola? Se mandam você se ajoelhar, você simplesmente obedece?

— Foi a Dona Paula quem ordenou. O que eu poderia fazer? — Gabriela murmurou, segurando a manga do casaco dele com delicadeza. Seus olhos estavam vermelhos, e sua voz tremia. — Ethan, você pode se divorciar dela? Luiza é assustadora...

Ethan franziu levemente as sobrancelhas:

— Você está falando da Luiza?

— Sim. — Gabriela mordeu o lábio inferior, hesitante, mas continuou. — Você sabe por que Michel destruiu o quadro do Sr. João? Porque ela provocou isso de propósito.

— Mamãe está certa! — Michel interrompeu, com os olhos cheios de lágrimas e a voz chorosa. — Tio Ethan, a tia Luiza me disse que tinha um monstro escondido no quadro e que ele ia comer meu braço. Foi por isso que eu...

— Isso é impossível. — Ethan o interrompeu com firmeza e, em seguida, acariciou a cabeça do menino de forma carinhosa. — Michel, você deve ter entendido errado. Sua tia é a pessoa mais gentil da nossa família. Ontem à noite, ela já disse que não estava chateada com você. Ela não faria algo assim. Além disso, o avô sempre teve um carinho especial por ela. Ela jamais brincaria com algo que ele valorizava tanto.

Essa última frase, no entanto, foi dirigida a Gabriela.

Gabriela olhou para ele incrédula:

— Você está dizendo que eu e Michel inventamos isso de propósito para difamá-la? Ethan! Você mudou tanto!

Essa acusação, dita com tanta mágoa, fez uma chama de irritação subir dentro de Ethan. Mas, ao se deparar com o olhar decepcionado de Gabriela, ele engoliu o incômodo e respondeu com calma:

— Gabi, eu nunca mudei. Desde o começo, sempre fui o mesmo.

Gabriela continuou a encará-lo.

— Você tem coragem de dizer que nunca sentiu nada por Luiza? Que nunca, nem uma vez, tocou nela?

Ethan, que sempre se orgulhou de sua consciência tranquila na frente dela, ficou sem palavras. Aquela pergunta simples o atingiu de uma forma inesperada.

As costas dele ficaram tensas, e suas longas pestanas baixaram enquanto ele admitia:

— Eu nunca a toquei.

Era a verdade. E era, também, algo que ele devia a Luiza.

— Eu nunca a toquei.

Luiza estava descendo as escadas naquele momento, com uma mão apoiada nas costas e a outra segurando um elegante presente. Foi essa frase, dita de forma clara e direta, que ela ouviu ao se aproximar.

Os lábios de Luiza se curvaram num sorriso cheio de ironia, mas ela não hesitou. Continuou caminhando até eles.

— Ethan, amanhã à noite tem o jantar da família Marques. Dona Joana pediu para saber se você tem tempo para ir.

Dona Joana, grande amiga dos pais de Luiza, havia assumido os cuidados dela após o trágico acidente que tirou a vida deles. Para o mundo de fora, Luiza era praticamente um membro da família Marques.

Depois que ela se casou com Ethan, os negócios entre a família Marques e os Soares continuaram fluindo sem interrupções.

Ao ouvir o que ela disse, talvez por conta do peso de suas próprias palavras momentos antes, Ethan respondeu imediatamente:

— Tudo bem. Amanhã à noite eu passo aqui para te buscar, e a gente vai junto.

— Certo.

Luiza abaixou os olhos, olhando para o presente em suas mãos. Depois, lançou um olhar rápido para Gabriela e Michel, que estavam sentados ao lado de Ethan no sofá. Sem dizer mais nada, ela se virou, pronta para sair.

Lilian, sua amiga, havia ganhado um caso importante hoje e a convidara para sair e comemorar. Mas, sabendo que Luiza tinha torcido o pé, as duas decidiram transformar o passeio em um simples jantar.

— Luiza. — A voz de Ethan a chamou, quase sem que ele percebesse. — O que é isso que você está segurando?

Luiza parou e olhou para ele por cima do ombro. Com um leve sorriso, ela balançou o presente na mão.

— Um presente.

— Um presente? Alguém faz aniversário hoje?

— É o presente do nosso aniversário de casamento. Três anos. Eu preparei para você.

— Luiza, me desculpe...

— Não tem problema. Você está ocupado com o trabalho, esquecer é normal.

Como sempre, Luiza manteve o tom de voz leve e gentil, seus olhos claros fixos nos dele. Com um gesto natural, ela entregou o presente para Ethan, sua voz soando suave e educada:

— De qualquer forma, daqui a duas semanas é o seu aniversário. Pode considerar isso como um presente de aniversário. Ethan, feliz aniversário adiantado!

E também, feliz divórcio para mim.
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