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Capítulo 5

Author: Estela Vieira
Ethan pegou o presente, sentindo algo leve e rápido cortar dentro de seu peito. Não era dor, mas o suficiente para deixar sua respiração desconfortável.

O laço no presente estava impecavelmente amarrado, com uma atenção aos detalhes que só alguém muito dedicado teria. Era evidente o quanto Luiza havia se esforçado e quanto tempo ela havia gastado para preparar aquilo.

Mas ele mesmo era apenas um completo canalha, cheio de pensamentos egoístas que não podia admitir.

Antes que Ethan dissesse qualquer coisa, Luiza já estava na porta da frente. Ela vestiu um casaco de lã bege e enrolou o cachecol no pescoço, escondendo quase todo o rosto delicado, deixando à mostra apenas aqueles olhos negros e brilhantes.

Logo depois, ela saiu de casa, mas Ethan notou que algo estava estranho na maneira como ela caminhava.

Ele estava prestes a perguntar, mas a voz de Gabriela ao seu lado o interrompeu com um suspiro dolorido:

— Ai... Dói tanto!

Ethan desviou o olhar para ela imediatamente. Ele ajudou Gabriela a se sentar novamente com cuidado e perguntou:

— Seu joelho está doendo muito? Quer que eu te leve ao hospital?

— Não quero ir. — Gabriela apertou os lábios e lançou um olhar para o presente nas mãos dele. Ela murmurou. — E você ainda diz que não sente nada por ela. Dá para ver claramente o quanto você valoriza qualquer coisa que ela te dá.

Ethan franziu as sobrancelhas e respondeu com firmeza:

— Gabi, eu já disse, eu devo muito a ela.

As lágrimas escorreram pelos olhos de Gabriela. Ela o encarou com uma mistura de dor e frustração.

— E eu? Ethan, e eu? O que você quer dizer com isso? Vai deixar ela continuar nos humilhando, a mim e ao Michel?

— Eu já falei, a Luiza não é esse tipo de pessoa.

— Chega! — Gabriela exclamou, a voz tremendo de raiva. — Você não percebe? Cada palavra que você diz agora é para defendê-la!

Dizendo isso, Gabriela saiu chorando, com os olhos inchados de lágrimas. Ela pegou Michel pela mão e subiu as escadas, sem olhar para trás.

Ethan ficou parado, atordoado por um momento. Ele soltou um suspiro pesado, como se estivesse tentando aliviar um peso que ele mesmo não conseguia entender.

A verdade era que ele não sabia o que estava sentindo. Ele só sabia que não suportava ouvir ninguém dizer uma única palavra ruim sobre Luiza.

Uma neve fina e contínua caiu por dois dias.

Naquela manhã, Luiza foi ao consultório atender pacientes. À tarde, recebeu colegas estrangeiros que haviam viajado para aprender acupuntura com Raul, seu colega de trabalho.

Como Raul teve um imprevisto, ele passou a responsabilidade para Luiza de última hora.

O expediente acabou às cinco da tarde. Depois do trabalho, Luiza voltou para casa, trocou de roupa e fez uma maquiagem leve.

Ela sempre teve uma beleza natural, com olhos brilhantes e dentes perfeitos. Bastava um pequeno retoque para que ela ficasse ainda mais deslumbrante, atraindo olhares por onde passasse.

Ao descer as escadas, Luiza notou algo diferente. Desde que ela havia chegado, a casa estava tão silenciosa que parecia até estranho. Gabriela e Michel, que sempre causavam confusão, estavam surpreendentemente quietos naquele dia.

— Luiza. — Assim que ela terminou de calçar as botas de cano longo, a voz de Gabriela, tingida com um sorriso provocador, soou atrás dela. — O que você acha? Ele vai escolher você ou a mim?

Luiza parou por um momento, surpresa. Logo em seguida, ela sorriu calmamente.

— Gabriela, você está falando do que? Não entendi muito bem. Quer dizer que você pretende encenar o clássico drama da viúva seduzindo o cunhado aqui na família Soares?

— Luiza!! — Gabriela gritou, os lábios tremendo de raiva.

Luiza, sem se abalar, vestiu seu casaco de cashmere com elegância. Ainda sorrindo, ela disse:

— Não vou perder meu tempo discutindo. O Ethan já está me esperando.

Gabriela seguiu o olhar de Luiza para a janela e viu o carro de Ethan estacionado no pátio. Ela ficou tão irritada que parecia prestes a explodir.

No começo, ela havia concordado em deixar Ethan se casar com aquela mulher tola porque achava que Luiza era fácil de controlar. Agora, no entanto, aquela "coelhinha" havia se transformado em uma fera pronta para atacá-la a qualquer momento.

Luiza entrou no carro e olhou para Ethan.

— Você não esperou muito, né?

— Não, acabei de chegar. — Ethan segurou levemente a mão dela, mas sua atenção logo se voltou para as pernas dela, parcialmente expostas pela barra do vestido. Ele franziu a testa ao ver o quanto ela estava vestida de forma leve.

— Por que você está vestindo tão pouca roupa?

Ela sorriu e respondeu:

— Ou estou no carro, ou na casa, e os dois têm aquecimento.

No consultório, Luiza costumava alertar seus pacientes incansavelmente sobre a importância de se proteger do frio. Mas, quando se tratava dela mesma, era como se isso não importasse tanto.

Ethan balançou a cabeça, sem saber o que fazer com ela.

— E se você pegar um resfriado? Como vai ficar?

— Eu tomo remédio.

Ela sabia exatamente como lidar com uma gripe. Uma dose de remédio era suficiente para resolver o problema. Afinal, nos últimos três anos, ela sempre teve que cuidar de si mesma.

Ela nunca esperou que Ethan cuidasse dela. Na verdade, ela não esperava nada de ninguém.

Ethan, ao ouvir o tom despreocupado de Luiza sobre seu próprio corpo, sentiu um desconforto inexplicável crescer dentro de si. Ele não conseguiu evitar o comentário:

— Do jeito que você fala, parece até que eu, como seu marido, não me importo com você.

Ela ficou ligeiramente surpresa com as palavras dele e perguntou:

— Você não abriu o presente que eu te dei ontem?

— Ainda não. — Ethan respondeu com a voz calma. — Não é um presente de aniversário? Estou guardando para abrir no meu aniversário.

Tudo bem. Assim, pelo menos, ela teria tempo suficiente para se preparar para o que viria depois.

Os dois não tinham muitos assuntos em comum, então o restante da viagem seguiu em completo silêncio.

Ethan desviou o olhar para Luiza e percebeu que ela estava apenas observando a paisagem pela janela, com o olhar perdido no movimento das ruas e carros. Ela parecia tão tranquila, tão serena, quase como se fosse impossível perturbá-la.

Ele realmente não entendia como Gabriela podia odiar tanto alguém como Luiza.

Ethan, sem querer, abriu ligeiramente os lábios, tentando puxar algum assunto, mas foi interrompido pelo toque repentino do celular.

— Sr. Ethan, a Sra. Gabriela foi a um encontro.

A voz do outro lado da linha não era alta nem baixa, mas o suficiente para que Luiza ouvisse claramente.

O clima dentro do carro ficou imediatamente tenso, quase sufocante. Luiza sentiu claramente o esforço de Ethan para conter sua raiva. Ele sempre foi um homem equilibrado, raramente perdia o controle.

— Me mande a localização. — A voz de Ethan estava gelada e carregada de autoridade.

Ele desligou o celular e voltou a olhar para Luiza. Seu rosto parecia calmo, mas suas palavras não deixaram espaço para negociação:

— Luiza, surgiu uma emergência. Não vou poder te acompanhar ao jantar da família.

Luiza sabia exatamente o que era essa “emergência”, mas não viu sentido em expor a situação. Se dissesse algo, só acabaria se sentindo ainda mais humilhada.

— Entendi. — Ela respondeu, com os olhos levemente baixos. — Joaquim, pode encostar o carro ali na frente, por favor.

O carro parou lentamente. Ethan, no entanto, não demonstrou sinal de que iria sair. Luiza, confusa, olhou para ele e disse:

— Ethan, desça logo. Não podemos ficar parados aqui por muito tempo.

— Certo...

Por um breve momento, ele pareceu surpreso com a serenidade dela. Seus olhos gentis e o tom calmo o deixaram sem palavras. Ele deixou o carro em silêncio, sem dizer mais nada.

Os jantares mensais da família Marques eram muito diferentes dos eventos grandiosos e barulhentos de outras famílias tradicionais. No total, a família contava com apenas cinco pessoas, e isso já incluía Ethan.

Como descrever a atmosfera? O silêncio era tão profundo que lembrava a sensação de uma visita ao cemitério. Até a energia no ar parecia a mesma.

Assim que Luiza entrou na casa, o mordomo a conduziu diretamente para o salão de jantar.

— Sra. Luiza, a Dona Joana já está esperando por você há um bom tempo. Ela mal podia esperar para que você voltasse.

— Entendi. — Luiza respondeu com um aceno de cabeça e um sorriso educado, mas suas mãos se apertaram nervosamente.

Na sala de jantar, Dona Joana estava sentada na cabeceira da mesa. À sua esquerda estavam suas duas filhas: a mais velha, Ivana, e a mais nova, Nádia.

Assim que entrou, Luiza cumprimentou cada uma delas respeitosamente:

— Vovó, tia Ivana, tia Nádia.

Ela seguia o costume da família Marques, chamando as tias pelo mesmo título que os primos usavam.

As duas tias responderam com um simples murmúrio, sem demonstrar muito entusiasmo. Dona Joana, por outro lado, lançou um olhar para trás de Luiza, procurando algo — ou alguém.

Ao notar que Ethan não estava lá, seu rosto se fechou na hora. As rugas na testa se juntaram, formando um “V” marcado de descontentamento.

— E o Ethan? — Ela perguntou com um tom severo.

Luiza respondeu com sinceridade:

— Ele teve uma emergência de última hora e precisou ir embora.

No segundo seguinte, um grito cortante preencheu o ambiente, acompanhado pelo som de uma xícara de café sendo arremessada na direção dela:

— Saia daqui e vá se ajoelhar lá fora!
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