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Um Presente de Despedida da Morte
Um Presente de Despedida da Morte
Author: Árvore Florida

Capítulo 1

Author: Árvore Florida
Eu morri de uma forma dolorosa no dia do meu próprio aniversário, e ninguém da minha família sequer percebeu. Eles me culparam por ter faltado à grande festa da Esme, sem imaginar que eu estive lá o tempo todo, mas não da forma que pensavam. Eu estava ali como uma alma.

...

Naquela noite, minha família voltou para casa com os braços cheios de sacolas de compras. Todos carregavam algo, exceto Esme, que estava feliz enquanto lambia um sorvete.

Ela era a princesinha deles, mimada ao ponto de não deixarem que ela fizesse o mínimo esforço.

Eles começaram a decorar a casa.

— Claudia, desça e venha ajudar. Só porque é seu aniversário não quer dizer que pode ficar de preguiça.

Edwin chamava por mim do andar de baixo. Em qualquer outro dia, eu teria corrido para ajudá‑lo. Mas naquele momento, apenas flutuava ao seu lado, observando tudo com um olhar frio e distante.

Quando eu não respondi, ele ligou para o meu celular, mas ninguém atendeu.

— Edwin, já que a Claudia não está aqui, deixa que eu te ajudo.

Esme se aproximou tranquilamente, arrancou o celular da mão dele e falou com voz manhosa.

Edwin riu, bagunçou o cabelo dela e respondeu com carinho:

— Vai sentar e descansar. Se não acabar logo com esse sorvete, ele vai derreter.

Assim que ela se afastou, o sorriso dele desapareceu. Ele franziu a testa e deixou uma mensagem:

— Claudia, volte agora! A festa começa em uma hora. Vamos receber muitos convidados hoje, então não estrague o clima.

Depois, voltou a decorar como se nada tivesse acontecido.

— A Claudia está de birra de novo?

Mamãe e Papai notaram sua frustração e zombaram imediatamente.

— Sim. Basta alguma coisa não sair do jeito que ela quer, que ela some. Ela sempre espera que implorem para que volte.

Edwin suspirou pesadamente enquanto amarrava alguns balões.

— Hmph! Mimada. Ela acha mesmo que essa festa não vai continuar sem ela? Quanta ingenuidade. A verdadeira estrela deste banquete é a Esme. Não vai fazer diferença se a Cláudia não aparecer. Quando ela voltar amanhã, dê a ela um pedaço de bolo que sobrar. Vai servir como lição. — A voz do meu pai ficava mais dura enquanto reclamava..

— Pai, não diga isso. Se a Claudia ouvir, vai ficar tão magoada… É aniversário dela também. Como poderíamos comemorar sem ela? Vou procurá‑la.

Esme correu até ele, dando tapinhas suaves em suas costas para confortá‑lo, e então saiu apressada.

A família inteira a elogiou, dizendo que ela era doce e sensata; mas ela nem saiu de casa.

Eu observei quando ela desceu para o porão. Com um único chute, ela arrombou a porta de ferro. Ao me ver caída no canto, imóvel, coberta de sangue seco, ela riu tanto que quase perdeu o fôlego.

— Ei, para de se fingir de morta. Levanta logo.

Ela se aproximou a passos largos e me chutou duas vezes. Mas eu não reagi, pois eu já havia morrido.

Sem perceber isso, ela se agachou e puxou o meu cabelo com força. Meus olhos continuaram fechados. Quando ela finalmente sentiu algo estranho, um som vindo do jardim chamou sua atenção.

— Por que o portão do jardim não está fechado?

Assustada, ela me largou, deu mais um chute antes de sair e completou:

— Fique aí. Não ouse aparecer na minha festa para roubar a cena.

Com um sorriso doce, ela subiu correndo as escadas e se jogou nos braços de Edwin.

— Foi culpa minha, Edwin. Esqueci de fechar o portão. Procurei a Claudia por toda parte, mas não encontrei ela.

O coração de Edwin se derreteu na hora. Ele acariciou a cabeça dela com gentileza:

— Esqueça ela. Hoje é o seu dia. Não desperdice seu tempo se preocupando com alguém tão insignificante.

"Insignificante?" pensei. Um sorriso amargo se formou nos meus lábios.

Não era que eu não tivesse valor, mas porque só a Esme importava para eles. Mesmo tendo nascido no mesmo dia que ela, meu aniversário sempre era ignorado. Ano após ano, eu comemorava sozinha.

Mas este ano foi diferente. Este ano não foi apenas meu aniversário. Era minha despedida.

Um mês antes, eu tinha sido diagnosticada com câncer terminal. Eu nunca planejei esconder isso. Os exames estavam bem à vista sobre a mesa.

E eu nunca me esqueceria das expressões de desprezo dos meus pais quando os viram. Eles me acusaram de fazer cena e querer atenção, como se eu desejasse competir com Esme por compaixão.

Mas a verdade era que eu nunca quis competir por nada. Eu nem planejava ir à festa.

Eu já havia preparado um presente para Esme com antecedência… e pretendia passar meu último aniversário discretamente com uma amiga. Mas antes que eu pudesse sair, um grupo de homens vestidos de preto me atacou. Um golpe forte na cabeça me fez apagar.

Quando acordei, eu estava no porão da nossa casa.

O líder balançava diante de mim um chaveiro — o mesmo com o amuleto Winny Bear favorito da Esme — enquanto os outros seguravam bastões.

Minhas pernas tremiam enquanto eu implorava para que me deixassem ir. Mas fui completamente ignorada. Eles me agrediram diversas vezes até eu mal conseguir respirar.

Depois disso, rasgaram minhas roupas e tiraram fotos íntimas. Quando terminaram, chacoalharam as chaves de forma provocante e foram embora.

Eu me lancei para a frente, em puro desespero, conseguindo apenas arrancar o pequeno amuleto Winny Bear.

A escuridão tomou conta logo em seguida.

Com o pouco de força que me restava, tentei ligar para meus pais, depois para Edwin, mas ninguém atendeu.

Eu recorri a uma mensagem. Meus dedos quebrados não conseguiam digitar muito… então escrevi apenas quatro números — 9395.

O código de emergência que Edwin e eu havíamos combinado. Ele costumava sussurrar ao acariciar meu cabelo:

— Se um dia você estiver em perigo, me mande esse número. Não importa o que aconteça, vou te buscar.

Na época, eu tinha rido.

— Como se eu algum dia fosse estar em perigo. Vivemos em um país civilizado.

Nunca imaginei que um dia realmente precisaria disso.

Mas quando enviei, implorando para que ele entendesse, a resposta dele me deixou sem chão:

"Você ainda pode usar o vestido do ano passado. Pare de arrumar confusão. Te vejo na festa mais tarde?"

Ele não acreditou em mim.

[Você pode usar o vestido do ano passado. Pare de agir como uma criança. Já que é seu aniversário, vou deixar para lá. Te vejo na festa mais tarde.]

Pena que eu não apareceria nessa festa. E nesta vida, nós nunca mais nos veríamos.

Quando meu celular ficou sem bateria, tudo que restou para eles foi meu corpo abandonado… e o presente de despedida que eu preparei com tanto cuidado.
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