Capítulo 4

Diziam por aí que a briga entre eles tinha sido por minha causa.

Ao ouvir isso, apenas dei um sorriso indiferente.

Eu já não era mais aquela pessoa que passava o dia inteiro atualizando o feed, tentando captar qualquer rastro de Guilherme, Lívia ou de qualquer pessoa do círculo deles — só para correr até ele ao menor sinal de crise e dizer:

— Guilherme, sou eu quem mais te ama.

Casais apaixonados brigam e se reconciliam rapidamente.

E daí se a briga foi por minha causa?

No fim das contas, eu sempre fiz parte do jogo deles.

Mas, depois disso, Guilherme começou a me ligar com uma frequência cada vez maior.

Eu, no entanto, ou desligava na hora, ou inventava alguma desculpa para não vê-lo.

Até que, na véspera da minha viagem, ele me ligou de novo.

— Já comprei os ingressos. — Disse ele. — Vamos juntos ao show hoje à noite, pode ser?

— Hoje é o nosso aniversário de casamento. Você não vai me recusar outra vez, vai?

Ele nunca tinha me pedido nada assim, com tamanha humildade.

Antes, bastava ele mencionar alguma coisa, dar um pequeno passo — e eu corria para completar os noventa e nove restantes, só para perceber, no fim, que ele sempre recuava aquele único passo... por Lívia.

Desta vez, porém, eu não soube o que responder.

Porque hoje não era nosso aniversário de casamento, mas sim o dia em que nos casamos pela quarta vez.

Entre tantas separações e reencontros, só eu seria capaz de guardar, com exatidão, cada data, cada detalhe relacionado a ele.

Mesmo assim, acabei aceitando.

Afinal, eu realmente queria assistir ao show do Loubet.

Mas naquela noite fiquei esperando, esperando, e Guilherme nunca apareceu.

Abri a mensagem de voz que ele havia acabado de enviar.

A voz dele soava cheia de culpa — misturada ao som alto da plateia e, ao fundo, o riso suave de Lívia.

— Desculpa, Rafaela. A Lívia passou mal de repente. Estou levando ela ao hospital.

— Ainda teremos muitos aniversários pra comemorar juntos. Amanhã, quando ela for embora, eu vou estar com você. Pode ser?

O show começou.

As luzes se acenderam e a voz do cantor ecoou pelo estádio:

"Quando a gente encontra um grande amor,

a gente aposta todas as fichas acreditando que será pra sempre..."

Fechei o áudio e, pela primeira vez em um mês, abri meu Instagram.

A postagem mais recente de Lívia apareceu no topo — uma selfie dela com Guilherme, tirada no mesmo show.

"A armadilha do amor... a gente nunca sabe onde vai cair.

Fui enganada, mas me recuso a acreditar..."

A música continuava, como se zombasse da última gota de esperança que eu ainda guardava ao aceitar o convite dele.

E, naquele instante, essa última esperança se desfez completamente.

Nosso sétimo divórcio.

Eu devia ter aprendido, não é?

Mas, pelo menos, agora seria o último.

Sem nenhum vestígio de apego, peguei minhas malas e segui direto para o aeroporto, onde passei a noite inteira sentada, observando o vai e vem das pessoas e tentando convencer a mim mesma de que tudo realmente tinha chegado ao fim.

Às sete da manhã, fiz o check-in.

Guilherme me mandou uma mensagem:

"Quando a gente vai se casar de novo?"

Não respondi. Apenas o excluí dos contatos.

Às oito, já na fila do embarque, ele ligou novamente, mas eu não atendi — apenas bloqueei o número. Uma hora depois, sentei-me junto à janela do avião, observando a pista enquanto o mundo lá fora começava a ficar cada vez mais distante.

A comissária anunciou o modo avião, mas, antes que eu o ativasse, o celular vibrou de novo.

Era Mariana.

Atendi — e, do outro lado, ouvi a voz de Guilherme, trêmula de nervosismo:

— Rafaela... onde você está?