Capítulo 1

— Rafaela, uma vez decidido, você não poderá voltar por cinco anos, ou até mais. Para o mundo externo, sua identidade será ocultada. Nesse período, ninguém conseguirá te encontrar, devido à natureza especial dos itens desenvolvidos pela nossa empresa. Por favor, compreenda.

— Eu entendo.

Rafaela Walker permaneceu em silêncio por um momento antes de assinar seu nome na parte inferior do documento.

— Tudo bem, finalize os trâmites até o dia vinte de outubro. Avisaremos você quando tudo estiver pronto.

Rafaela olhou para o celular. Era primeiro de outubro; ainda restavam vinte dias.

Ao passar por uma grande tela no shopping, ela parou. O telão exibia notícias da coletiva de imprensa realizada uma semana antes.

O presidente do Grupo Barbosa, Benício Barbosa, havia gastado três anos projetando pessoalmente um vestido de noiva luxuoso para sua esposa. Era um gesto para compensar o fato de que ela não usou um vestido de noiva em seu casamento.

O lançamento do vestido causou grande comoção, e todos comentavam sobre a sorte de Rafaela por ter encontrado um homem tão rico e tão apaixonado como Benício.

As mulheres que passavam olhavam para ela com admiração.

— Você sabia? Eles dois são o casal perfeito! Ouvi dizer que o Benício lembra de todos os gostos dela, até os mínimos detalhes.

— Pois é! Dizem que, anos atrás, ela sofreu um acidente de carro tão grave que os médicos chegaram a sugerir que o Benício doasse uma das córneas para salvá-la da cegueira. Ele aceitou na hora e assinou os papéis sem hesitar. Mas, por sorte, a visão dela acabou se recuperando sozinha.

— E ele nunca esquece de dar presentes em datas especiais, por mais ocupado que esteja. Isso já o coloca na frente de 99% dos homens.

Rafaela ergueu os lábios em um sorriso irônico. Naquele momento, ela desejava que sua audição nunca tivesse voltado. Ouvir essas coisas só lhe causava repulsa.

Anos atrás, durante uma briga de Benício com colegas na escola, ela se colocou entre ele e uma cadeira que estava sendo arremessada, ficando surda como resultado.

Desde então, ela era tratada como uma estranha por todos à sua volta. Era ridicularizada, isolada, chamada de "surda".

Benício apareceu em sua vida como uma luz em meio às trevas, abraçando-a enquanto ela chorava, completamente destruída.

— Rafaela, você não é uma surda. De agora em diante, eu serei seus ouvidos. Não vou deixar ninguém te machucar! Quem tentar, eu enfrento até o fim!

Na época, ela acreditava que aquela felicidade seria eterna. Agora, parecia mais com um fogo de artifício: brilhante, mas de curta duração.

Dias atrás, quando ela finalmente estava pronta para compartilhar com ele a boa notícia de que sua audição havia voltado, descobriu que a ex-namorada que um dia o fez sofrer profundamente estava de volta.

Os dedos de Rafaela estavam tão apertados que os nós dos dedos ficaram brancos.

Se aquele relacionamento já não passava de uma fachada, ela não pretendia insistir. A partir daquele momento, ela desapareceria do mundo dele.

Com a cabeça baixa, ela colocou o acordo de divórcio, já assinado, dentro de uma caixa.

Rafaela enxugou as lágrimas que escorriam pelos olhos e se preparou para chamar um carro. Mas, de repente, um veículo que ela conhecia muito bem parou ao seu lado.

As calças impecavelmente passadas subiram um pouco quando ele cruzou as pernas ao sair do carro, revelando um par de sapatos derby de couro brilhante. O rosto anguloso de Benício mostrava uma expressão de preocupação enquanto ele se aproximava.

Ele começou a se comunicar rapidamente em libras:

— Rafaela, eu não te falei para me esperar dentro do shopping? Está tão frio, você quer ficar doente?

Ele pegou as mãos dela entre as suas e as esfregou para aquecê-las. Seus olhos escuros refletiam um misto de dó e carinho enquanto ele a puxava em direção ao carro.

Rafaela arqueou os lábios em um sorriso cínico. Seu peito parecia estar sendo esmagado, dificultando a respiração.

Então era assim que se fingia amar alguém.

Benício a ajudou a colocar o cinto de segurança. Quando olhou para o lado, viu uma caixa delicadamente decorada ao lado dela. Ele apontou para o objeto.

— O que é isso?

Rafaela abaixou os olhos, escondendo as emoções que transbordavam em seu olhar.

— Um presente para o nosso aniversário de namoro.

Benício sorriu, com traços de alegria suavizando sua expressão, e estendeu a mão para abrir a caixa.

Rafaela segurou a mão dele a tempo.

— Abra só no dia do nosso aniversário.

Embora curioso, Benício respeitou o pedido dela e não insistiu.

Ele apertou carinhosamente o nariz dela.

— Tudo bem, como você quiser. Vamos primeiro tirar as fotos do casamento.

Benício queria que ela vestisse o vestido que ele havia mandado fazer sob medida, algo que ele planejava usar para celebrar as bodas de ouro no futuro.

Mas só Rafaela sabia que aquele “futuro” nunca existiria.

Ela olhou pela janela do carro, as lágrimas queimando seus olhos.

“Benício, eu realmente queria saber qual será a sua reação no dia em que você abrir esse presente.”