Capítulo 5

Quando Rafaela desceu as escadas, Otávia ainda estava esperando por ela.

Assim que a viu sair, Otávia se apressou em ir até ela, começando a sinalizar em libras:

— E aí, como foi?

— Não deu certo. Thiago é exatamente como dizem. Ele é impenetrável, nada o convence.

Rafaela suspirou. Não apenas sua tentativa falhou, mas ela quase colocou tudo a perder.

Quando ela abriu a porta para sair do escritório de Thiago, ouviu sua voz grave ecoar atrás dela:

— Ouvi dizer que você perdeu a audição anos atrás para proteger Benício. Pelo visto, já recuperou.

Aquela frase a fez estremecer. Ela não tinha certeza se Thiago manteria seu segredo sobre ter recuperado a audição, mas sentia que, mesmo que pedisse, ele não a ajudaria.

Otávia, com uma expressão de culpa, abaixou os olhos:

— Me desculpe, Rafaela. Não consegui te ajudar como prometi.

— Não tem problema. Na verdade, fui eu quem te colocou em apuros.

Rafaela se lembrou das palavras de Thiago sobre demitir toda a equipe envolvida e sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

Quando terminou de falar, notou que Otávia estava parada, completamente imóvel, com um olhar vazio.

Rafaela balançou a mão na frente do rosto dela.

— O que foi? Ficou paralisada?

Otávia virou o pescoço lentamente, olhando para Rafaela com incredulidade.

— Eu... Eu não estava sinalizando em libras agora. Você... Você ouviu o que eu disse?

Rafaela rapidamente cobriu a boca de Otávia para impedir que ela falasse mais alto.

— Fala baixo! Vem comigo.

Ela levou Otávia para um canto mais reservado e explicou rapidamente o que havia acontecido. Otávia, agora animada, começou a gesticular de forma exagerada, quase celebrando.

— Isso é incrível! Por que você não me contou antes? Me deixou aqui parecendo uma idiota, sinalizando para você como se não houvesse amanhã!

Apesar de não ser muito boa em libras, Otávia sempre tentava se comunicar com Rafaela, que, por sua vez, era perspicaz o suficiente para interpretar até movimentos amadores.

— Você precisa guardar isso em segredo. Nem o Benício sabe. E, olha, avise sua amiga que me ajudou. É provável que ela perca o emprego depois de hoje.

Rafaela falou com a voz baixa, enquanto passava para Otávia as palavras duras de Thiago.

Otávia baixou os ombros, frustrada:

— Meu Deus, esse Thiago é mesmo implacável. Acho que seu plano foi por água abaixo.

...

Quando Rafaela voltou para casa, a primeira coisa que fez foi vender o vestido de noiva personalizado que Benício havia mandado fazer para ela.

Ela já tinha entendido que, independentemente de conseguir ou não assumir o Projeto Horizonte, precisaria de dinheiro para seu futuro.

Agora, Rafaela não era mais a herdeira rica da família Walker. Era apenas uma mulher comum, e a vida de alguém comum exigia recursos para sobreviver.

Ela achava que levaria dias para vender o vestido pela internet, mas, para sua surpresa, em apenas 30 minutos, alguém pagou uma fortuna pelo item.

O dinheiro foi transferido rapidamente: cinco milhões.

Rafaela olhou para a conta bancária com satisfação, já imaginando como usaria o dinheiro.

No entanto, seus pensamentos foram interrompidos pelo som da porta sendo aberta com força.

Benício entrou apressado, com o rosto coberto de suor frio. Ele se ajoelhou na frente de Rafaela, claramente ansioso, e começou a sinalizar com as mãos:

— Vi que você colocou o vestido de noiva à venda. Eu mesmo desenhei aquele vestido para você. Fiz algo errado? Você está chateada comigo?

Os olhos de Benício estavam cheios de preocupação. Rafaela o observou em silêncio por alguns segundos. Houve um tempo em que ela achava que o entendia completamente. Pelo olhar dele, ela conseguia ver tudo o que se passava em sua alma.

Mas agora, tudo o que ela via era falsidade.

Ela forçou um sorriso e respondeu:

— Não, não tem nada a ver com você. Só achei que o vestido era algo supérfluo. Você lembra daquela vez que eu te falei sobre o orfanato? Eles precisam muito de ajuda, então decidi doar o dinheiro para eles.

Benício a olhou com certa desconfiança, franzindo levemente o cenho.

— Tem certeza? Não foi por causa do Projeto Horizonte? Você está chateada porque o projeto foi para a Cíntia?

Rafaela deu uma risada contida e bateu suavemente na mão dele, fingindo indiferença.

— Claro que não. A Cíntia foi nossa colega de faculdade. É natural que a gente se ajude, certo? Não precisa se preocupar com isso.

Ao ouvir isso, o rosto tenso de Benício relaxou completamente. Ele sorriu, e seu tom ficou mais leve:

— Sabia que você não era esse tipo de pessoa. Fique tranquila, vou supervisionar o projeto pessoalmente. Nada vai dar errado.

Rafaela quase riu alto com a ironia da situação.

Aparentemente, na visão de Benício, ela era generosa o suficiente para abrir mão de algo que era tão importante para ela.

Ela sabia que não seria capaz de tirar o projeto das mãos de Benício. Sua única chance era convencer Thiago a ajudá-la.

Enquanto pensava nisso, o celular de Benício tocou. Ele olhou rapidamente para a tela e tentou rejeitar a chamada, mas Rafaela percebeu o nome de quem estava ligando: Cíntia.

Um sorriso sutil e irônico surgiu no rosto dela.

— Quem está ligando? Por que você não atende?

Benício colocou o celular de volta no bolso e forçou um sorriso:

— É da empresa, mas agora você é mais importante do que qualquer coisa.

Ele disse isso com um olhar aparentemente afetuoso, estendendo a mão para tocar o rosto de Rafaela.

Ela manteve a calma e respondeu:

— Atenda. Pode ser algo urgente.

Benício hesitou, mas Cíntia continuava ligando sem parar. Ele suspirou, bagunçou levemente o cabelo de Rafaela e apontou para a porta, indicando que iria atender do lado de fora.

Rafaela acenou com a cabeça, observando-o sair.

Enquanto Benício desaparecia pela porta, o brilho nos olhos de Rafaela lentamente se apagou.

Ela se lembrou da promessa que ele havia feito, que confiaria a ela o Projeto Horizonte, não importasse o que acontecesse.

Mas agora, com uma desculpa fria de que a decisão havia sido do conselho de diretores, Benício entregou o projeto a Cíntia sem pestanejar. Para ele, aquilo parecia tão simples quanto respirar.

A vibração do celular trouxe Rafaela de volta aos seus pensamentos. Era uma mensagem de Otávia:

Otávia: [Ouvi dizer que hoje à noite o Thiago foi convidado para um leilão beneficente. Não sei se ele vai aparecer, mas há rumores de que ele quase nunca vai a esse tipo de evento.]

Otávia: [Se você quiser tentar, pode ser que tenha sorte. Nunca se sabe.]

Rafaela não fazia ideia se Thiago realmente apareceria, mas sabia que precisava tentar. Quem sabe, com um pouco de sorte, ela conseguiria falar com ele.

Ela respondeu rapidamente à mensagem:

[Obrigada.]

Assim que enviou a mensagem, Benício voltou ao quarto depois de terminar sua ligação. Ele se ajoelhou levemente na frente dela, sinalizando em libras com uma expressão preocupada:

— Hoje à noite tenho um compromisso. Provavelmente não vou poder jantar com você. Que tal a gente remarcar para outro dia?

— Não precisa se preocupar. Pode ir tranquilo. Podemos jantar outro dia.

Rafaela sorriu com aparente tranquilidade, mas, na verdade, estava aliviada. Ela também tinha planos para aquela noite e não sabia como recusaria caso ele insistisse em levá-la para jantar.

Benício, sem perceber a tensão dela, inclinou-se e beijou sua testa, um gesto que antes a fazia se sentir especial, mas que agora só causava repulsa.

— Você é tão compreensiva. Prometo que vou conseguir para você aquele bracelete do leilão que você gostou.

— Claro, vá logo.

Rafaela respondeu com um tom gentil, enquanto inclinava levemente a cabeça para evitar qualquer contato mais próximo.

Só de pensar que as mãos e os lábios de Benício também tinham tocado Cíntia, ela sentia um nojo profundo.

Benício, no entanto, não percebeu nada. Rafaela viu claramente que, no fundo, ele estava ansioso para sair dali, como se mal pudesse esperar para ir ao encontro de outra pessoa.

Assim que ele saiu, Rafaela se levantou, pegou uma roupa elegante no guarda-roupa e se maquiou rapidamente. Não queria perder tempo.

Quando chegou ao leilão beneficente, ela apresentou o convite que havia conseguido graças a um evento anterior em que o Grupo Barbosa foi convidado. Sem isso, teria sido difícil entrar.

Já dentro do salão principal, Rafaela deu uma volta pelo local, mas não encontrou Thiago. Em vez disso, seus olhos captaram duas figuras muito familiares: Benício e Cíntia.

Cíntia estava ajustando a gravata de Benício com um olhar cheio de ternura, como se ele fosse o centro do universo dela.

Rafaela deixou escapar um sorriso sarcástico. Aquilo era o tal “encontro com parceiros comerciais”?

Mas o pior ainda estava por vir.

Um garçom se aproximou com um pequeno e elegante estojo de veludo vermelho nas mãos e o entregou a Benício.

Ele abriu o estojo lentamente, retirou o conteúdo e, com cuidado, colocou o bracelete no pulso de Cíntia.

Os olhos de Rafaela tremeram. Ela ficou paralisada no lugar, como se tivesse virado pedra.

Aquele bracelete tinha um significado especial para ela. Era o primeiro design que ela criou na vida. Na época, sua mãe estava gravemente doente e não tinha dinheiro para o tratamento. Por isso, Rafaela vendeu o bracelete. Benício havia prometido que, assim que o bracelete fosse a leilão novamente, ele o compraria para devolvê-lo a ela.

Mas, para Benício, suas palavras de um momento atrás não tinham valor algum. Ele dizia que a amava, que faria tudo por ela. Mas, ao mesmo tempo, era capaz de olhar para outra mulher com aquele mesmo olhar apaixonado e íntimo.

Rafaela mordeu os lábios com tanta força que uma linha de sangue começou a aparecer. Mas ela nem percebeu.

Ela ficou ali, vendo Cíntia sorrir com os olhos brilhando enquanto se jogava nos braços de Benício.

— Benício, você é tão bom para mim.

A voz de Cíntia era doce, mas logo foi tomada por uma falsa preocupação, enquanto ela olhava para ele com olhos úmidos:

— Mas... E se a Rafaela descobrir? Será que ela vai ficar chateada?