Capítulo 4

Rafaela voltou para o escritório segurando seu próprio plano de ação. Otávia, ao notar a expressão abatida dela, se aproximou e começou a se comunicar em libras:

— Rafaela, está tudo bem? É verdade que o projeto foi dado para aquela novata?

Rafaela segurou o pulso de Otávia, olhando-a com seriedade:

— Vem comigo, precisamos conversar.

As duas foram para a copa, onde Rafaela, com uma expressão severa, disse:

— Eu preciso da sua ajuda com algo muito importante.

— Pode falar. Se eu puder ajudar, você sabe que eu ajudo.

— Ouvi dizer que o Grupo Aurus também tinha interesse no Projeto Horizonte. Agora que o projeto ainda não começou, se aparecer uma proposta melhor que consiga tomar a concessão do projeto, a execução não será mais responsabilidade do Grupo Barbosa.

Otávia arregalou os olhos, completamente surpresa. Suas mãos começaram a se mover de forma rápida e confusa enquanto ela protestava:

— Você ficou louca? Se você se envolver nisso e descobrirem, vão te acusar de vazamento de informações confidenciais. Sua carreira estará completamente arruinada! E tem mais: ouvi dizer que o dono do Grupo Aurus tem um histórico complicado. Nem na internet se encontra informações profundas sobre ele. Se você for até lá, é como entrar na boca do lobo. E se no final te acusarem de traição, o tiro pode sair pela culatra!

Só de ouvir os pontos que Rafaela mencionou, Otávia já estava apavorada.

Mas Rafaela não tinha outra escolha. Chegar àquele ponto já significava que todas as pontes estavam queimadas.

— Esse é o único desejo da minha mãe antes de partir. Eu preciso realizar isso!

O tempo de Rafaela estava se esgotando.

Otávia conhecia Rafaela desde a faculdade e sabia que, uma vez que ela tomava uma decisão, nada a fazia mudar de ideia. Após pensar por alguns instantes, Otávia suspirou pesadamente.

— Tudo bem. Eu vou contigo nessa, mas você precisa ser cuidadosa. Se descobrirem que a esposa do presidente do Grupo Barbosa está ajudando o maior rival, vai ser um escândalo.

— Pode deixar.

Rafaela agradeceu segurando com força as mãos de Otávia, demonstrando toda sua gratidão.

Ao sair da copa, Rafaela começou a recolher seus pertences em silêncio. Enquanto organizava suas coisas, acabou derrubando um porta-retratos.

Ao se abaixar para recolhê-lo, viu que era uma foto dela e de Benício. Foi tirada no início do relacionamento dos dois, quando decidiram oficializar a relação. Eles estavam com as cabeças encostadas, os rostos sorridentes e cheios de inocência juvenil.

Naquele momento, os dois pareciam tão felizes que nada no mundo poderia abalá-los. Eles acreditavam que, juntos, poderiam superar qualquer obstáculo.

Mas agora, olhando para a foto, parecia apenas uma piada cruel.

Rafaela recolheu os pedaços da moldura quebrada e jogou no lixo.

Assim que terminou de arrumar tudo, recebeu uma mensagem de Otávia:

Otávia: [Usei todas as conexões que tenho. Consegui quinze minutos para você falar com ele.]

Rafaela: [É o suficiente!]

Era tudo ou nada. Aquela era sua única chance.

Com o plano de ação em mãos, Rafaela se dirigiu ao prédio do Grupo Aurus. Antes de entrar, Otávia deu um tapinha no ombro dela e tentou encorajá-la:

— Mostre seu talento e conquiste ele com sua inteligência. Se não funcionar, use sua beleza!

Rafaela não conseguiu evitar e acabou rindo do comentário.

— E se ele gostar de homens?

— Isso...

Otávia ficou sem palavras por um momento, sem saber o que responder.

Rafaela deu um sorriso resignado, despediu-se da amiga e entrou no prédio.

Quando entrou no elevador, sentiu uma onda de insegurança.

Muito disso vinha da reputação do dono do Grupo Aurus. Diziam que ele era extremamente difícil de lidar, quase impossível de encontrar, mas que sua empresa, em poucos anos, havia superado em desempenho o Grupo Barbosa.

O fundador, Thiago Castellani, era uma figura lendária. Em apenas dois ou três anos, ele transformou uma empresa comum em uma potência do mercado, tornando-se um dos empresários mais admirados e misteriosos do país.

Ao chegar à porta do escritório, Rafaela respirou fundo e bateu de leve.

Uma voz fria e controlada soou de dentro.

— Entre.

Rafaela respirou fundo antes de abrir a porta e entrar no escritório.

O ambiente, decorado em tons frios de preto, branco e cinza, reforçava a sensação de distanciamento e austeridade. Os traços firmes e angulosos do homem atrás da mesa pareciam feitos para afastar qualquer um que se aproximasse, como uma barreira invisível.

Ele ainda estava ocupado dando instruções a um subordinado, mas os olhos de Rafaela foram imediatamente atraídos para ele, incapazes de se desviar. A presença dele era simplesmente avassaladora.

Diferente da frieza arrogante de Benício, Thiago tinha uma aparência muito mais agressiva. Seus traços eram mais afiados, e a seriedade em seu semblante era ainda mais marcante.

Rafaela não esperava encontrar outra pessoa no escritório. Ela se moveu silenciosamente e sentou-se no sofá, tentando não chamar atenção.

Thiago, completamente concentrado no que fazia, não deu o menor sinal de que havia notado sua presença. Seus olhos fixos no contrato que assinava e o tom grave de sua voz transmitia uma autoridade natural.

Ela não tinha pressa. Ficou ali, esperando pacientemente. Quando o subordinado terminou de falar e se preparava para sair, Thiago interrompeu-o com uma voz cortante, sem nem levantar o olhar.

— Descubra quem deixou ela entrar. Todos os envolvidos, demitidos.

O subordinado congelou por alguns segundos, claramente surpreso. Ele lançou um olhar discreto para Rafaela, que estava sentada no sofá, antes de assentir.

— Sim, chefe.

O coração de Rafaela deu um salto. Ela já tinha ouvido falar da fama de Thiago Castellani: implacável, direto e sem qualquer tolerância para erros. Mas ouvir não era o mesmo que presenciar.

Ele estava apenas assinando um contrato, e, nesse curto espaço de tempo, já havia decidido demitir uma equipe inteira.

Antes que ele tivesse a chance de mandá-la sair, Rafaela começou a falar, explicando o motivo da visita. Thiago, no entanto, não moveu um músculo. Nem sequer ergueu os olhos.

Mesmo assim, Rafaela sabia que ele estava ouvindo. Então, continuou, apresentando suas ideias de forma clara e objetiva.

Quando ela finalmente terminou, Thiago levantou o olhar, encarando-a pela primeira vez. Seus olhos eram profundos, afiados como lâminas, e a intensidade do olhar fazia com que ela se sentisse completamente exposta.

Por algum motivo, mesmo sendo a primeira vez que o via, Rafaela teve a estranha sensação de que já o conhecia de algum lugar.

Ela organizou seus pensamentos e falou com firmeza:

— Sr. Thiago, se eu puder ajudar sua empresa a conquistar a concessão do Projeto Horizonte, nos próximos três anos vocês terão um crescimento exponencial. Além disso, o terreno ao redor do projeto abrirá diversas possibilidades estratégicas para vocês explorarem...

Thiago colocou os papéis de lado, seus olhos estreitos fixos nela, como os de uma ave de rapina observando sua presa.

— Sra. Barbosa, você está aqui porque brigou com o seu marido ou porque isso faz parte de uma nova estratégia da sua empresa?

A pergunta dele foi como um golpe direto, deixando Rafaela um pouco sem reação. Mas ela não deixou que isso abalasse sua postura.

— Sr. Thiago, entendo que o senhor possa ter dúvidas, mas estou aqui porque quero, de fato, ajudá-lo a conseguir a concessão do projeto. Ninguém entende melhor o Projeto Horizonte do que eu.

Thiago largou a caneta sobre a mesa e recostou-se na cadeira, com uma postura que misturava desprezo e curiosidade.

— Então, vocês brigam, e eu é quem pago o preço?

Rafaela apertou os lábios, tentando manter a compostura e explicar sua posição.

— Eu não quero dinheiro. Só tenho uma condição: se eu conseguir a concessão, quero ser responsável pelo design e pela execução do projeto.

Os olhos de Thiago brilharam com uma intensidade perigosa enquanto ele se inclinava levemente para a frente.

— Você sabe o que significa vir aqui negociar comigo, certo?

— Sei. Significa que eu posso acabar desagradando os dois lados. Se isso vazar, o Grupo Barbosa vai me acusar de traição, e o senhor pode muito bem suspeitar que sou uma espiã enviada por eles.

O sorriso que surgiu no canto dos lábios de Thiago foi quase imperceptível, mas seus olhos brilhavam com algo que parecia ser diversão.

— Estou curioso. Se o Projeto Horizonte já é da sua empresa, por que você veio até aqui?

Rafaela abaixou os olhos, incapaz de esconder a sombra de tristeza que tomou conta de sua expressão.

— Por motivos pessoais. Não posso entrar em detalhes, mas esse projeto é extremamente importante para mim.

Thiago girou o anel em seu dedo indicador, os olhos avaliando cada nuance da expressão dela.

— Ouvi dizer que a responsável pelo Projeto Horizonte não é você. Parece que colocaram uma novata no seu lugar.

Ele fez uma pausa, deliberadamente, deixando que suas palavras ecoassem antes de continuar:

— Mas isso não é problema meu. Não vou me meter nos seus assuntos pessoais. Não vale a pena entrar nessa confusão só por sua causa.