Capítulo 7

Do nada, a conversa mudou de rumo e a atenção foi completamente voltada para Thiago e Rafaela, como se o fogo tivesse começado a queimar diretamente nos dois. Rafaela sentiu o coração disparar.

No setor empresarial, todo mundo sabia que o Grupo Barbosa e o Grupo Aurus eram rivais. Na verdade, em toda Serandia, eram as únicas duas empresas capazes de competir em pé de igualdade.

A proximidade de Rafaela com Thiago, o principal concorrente, era definitivamente motivo de suspeitas.

Mas, para ela, enquanto conseguisse manter a atuação impecável, isso não seria um problema.

Com uma expressão leve e despreocupada, Rafaela respondeu:

— Eu só pisei sem querer no sapato do Sr. Thiago. Achei que pedir desculpas era o mínimo a se fazer. Não acha?

Thiago, com aquele tom sempre provocador, completou:

— Exatamente. A Sra. Barbosa estava prestes a se desculpar, mas, por acaso, o Sr. Benício apareceu antes.

Benício olhou para Thiago com o semblante carregado, as sobrancelhas franzidas e a expressão visivelmente sombria.

— Sr. Benício, já que está aqui, por que não se encarrega de pedir desculpas no lugar da sua esposa? Afinal, eu não costumo gostar de colocar mulheres em situações constrangedoras.

Benício abriu a boca para dizer algo, mas Thiago foi rápido em interrompê-lo, sem a menor cerimônia.

Rafaela ficou ainda mais surpresa com as palavras de Thiago. Ela o encarou, quase incrédula. Como ele podia falar com tanta cara de pau que "não gosta de colocar mulheres em situações constrangedoras", sendo que, minutos atrás, quase a deixou cair no chão de propósito?

Benício permaneceu em silêncio, a expressão cada vez mais fechada. Rafaela percebeu que havia algo diferente nele naquela noite, especialmente depois que viu Thiago. Era como se toda a confiança de Benício tivesse sido abalada.

Após alguns instantes, Thiago esfregou a testa com os dedos, como se estivesse perdendo a paciência.

— Dizem por aí que o Sr. Benício trata a Sra. Barbosa como a coisa mais preciosa da sua vida. Será que isso é só boato?

As palavras saíram da boca de Thiago com uma calma que só aumentava a tensão. No entanto, o peso e a provocação por trás delas eram impossíveis de ignorar.

Se fosse em outros tempos, Rafaela teria intercedido imediatamente. Ela sempre foi o tipo de pessoa que protegia quem amava, não importava o custo. Podiam atacá-la, mas ninguém tinha permissão para atacar as pessoas importantes em sua vida.

Agora, no entanto, ela queria ver como Benício lidaria com aquilo.

Ela o conhecia bem. Seu orgulho era enorme. Um homem como ele, acostumado a ser o centro das atenções, jamais pediria desculpas publicamente a um rival, ainda mais cercado por tanta gente. Amanhã, aquilo com certeza estaria em todos os tabloides.

A tensão no ar era quase palpável.

Cíntia, tentando aliviar a situação, falou com a voz suave:

— Sr. Thiago, isso não é nada tão sério. É só um sapato. Podemos comprar outro para o senhor, se for o caso.

Thiago ergueu o olhar, com um sorriso irônico no rosto.

— Senhorita, por acaso você é a próxima Sra. Barbosa?

A provocação foi direta e implacável, deixando Cíntia visivelmente desconfortável. Seu rosto ficou pálido, e ela não conseguiu esconder o constrangimento.

Benício deu um passo à frente, colocando Cíntia atrás dele.

— Esqueci de apresentar. Esta é Cíntia, uma nova funcionária da nossa empresa.

Thiago abaixou o olhar para o relógio em seu pulso, completamente alheio à tensão no ar. Ele respondeu com descaso:

— Ah, não conheço.

Cíntia mordeu os lábios, parecendo uma criança assustada. Seus olhos ficaram marejados, como se estivesse prestes a chorar, e ela segurou a barra do paletó de Benício com as mãos trêmulas.

— Benício...

Benício respirou fundo, claramente tentando controlar a irritação. Ele apertou e soltou os punhos algumas vezes antes de finalmente falar:

— Foi minha esposa quem errou. Como marido, é minha responsabilidade resolver isso. Sr. Thiago, o que você quer?

Nesse momento, um garçom passou por perto, e Thiago ergueu a mão casualmente.

— Essa garrafa de champanhe. Sr. Benício, se o senhor beber tudo, consideraremos o assunto encerrado.

Cíntia imediatamente tentou intervir.

— Isso não é justo! O Benício não tem resistência para beber tanto assim. Sr. Thiago, eu bebo por ele.

Ela pegou a garrafa e tentou abrir, mas Benício tomou o objeto de suas mãos antes que ela pudesse fazer qualquer coisa.

— Você tem alergia a álcool. Não faça isso.

As palavras dele foram diretas, mas, para Rafaela, soaram como uma facada. Ele sabia que Cíntia tinha alergia a álcool, mas não se lembrava que ela era alérgica a poeira.

As mãos de Rafaela, apoiadas na cadeira ao lado, ficaram brancas de tanto apertar. Ela cambaleou levemente, tentando processar o que acabara de ouvir.

Benício abriu a garrafa e, sem hesitar, começou a beber. Cíntia o olhava com preocupação genuína, como se aquilo fosse a coisa mais dolorosa que já tinha presenciado.

Thiago, por outro lado, estava encostado em uma cadeira próxima, observando tudo como se fosse um mero espectador em um teatro. Ele não fez nada para interromper, apenas esperou que Benício terminasse a garrafa.

Quando Benício finalmente terminou, Thiago bateu palmas de forma indiferente.

— Sr. Benício, impressionante. O senhor tem mesmo uma boa resistência para bebidas.

Com um sorriso despreocupado, Thiago colocou as mãos nos bolsos e, sem olhar para trás, saiu do salão do leilão.

Benício estava com o estômago revirado, mas fez um esforço para se manter de pé e olhou para Rafaela, cujo rosto estava pálido como uma folha de papel.

Ele cambaleou até ela, segurou sua mão e começou a sinalizar em libras:

— O Thiago não é uma boa pessoa. Fique longe dele.

Rafaela, ao ver que ele mal conseguia se equilibrar, apoiou o braço dele para ajudá-lo.

— Você precisa ir para casa descansar.

Benício assentiu levemente e, em seguida, virou-se para Cíntia, que o observava com olhos preocupados.

— Pegue um táxi para voltar para casa. Assim que chegar, me avise.

Cíntia acenou com a cabeça, com um tom delicado na voz:

— Sim.

Antes de sair, ela se virou para Rafaela e sinalizou com as mãos, em um tom quase implorativo:

— Rafaela, por favor, cuide bem do Benício. Ele não tem resistência para bebida. Sempre que bebe demais, fica com dor no estômago no dia seguinte. Talvez você possa fazer aquela sopa que ajuda a aliviar a dor?

As palavras de Cíntia atingiram Rafaela como um soco. Por um instante, ela sentiu o ar faltar, mas se controlou. Em vez de responder diretamente, limitou-se a dizer:

— Cíntia, cuidado no caminho. E, da próxima vez, em público, chame o Benício de “chefe”. Afinal, se alguém ouvir você chamando ele pelo nome e interpretar errado, pode achar que você é... Algo como a amante dele. E isso seria péssimo, não acha?

Rafaela não deu tempo para que Cíntia respondesse. Firmou o braço de Benício e começou a conduzi-lo para fora.

Cíntia ficou parada, observando os dois se afastarem. Seus lábios rosados estavam mordidos de raiva, e seus olhos brilhavam com uma mistura de ressentimento e insatisfação.

Enquanto Rafaela ajudava Benício a sair do prédio, ela percebeu pelo canto do olho uma figura familiar. Não muito longe, Thiago estava encostado em seu Bugatti, com uma postura relaxada. Ele segurava um cigarro entre os lábios e parecia estar ocupado ao telefone.

De repente, Thiago virou a cabeça, e seus olhos escuros e frios encontraram os de Rafaela.

Foi como se seu coração parasse por um segundo. Rafaela rapidamente desviou o olhar, abriu a porta do carro e ajudou Benício a entrar.

Enquanto o carro deles passava pelo de Thiago, Rafaela sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Era como se estivesse sendo observada, como se uma energia pesada pairasse no ar.

Ela não entendia por que Thiago tinha sido tão cruel com Benício naquela noite. Mas qualquer um podia perceber que havia uma rixa, algo pessoal, entre os dois.

Benício, geralmente tão confiante e imponente no mundo dos negócios, parecia desconfortável e vulnerável diante de Thiago. Será que havia algo no passado deles que ela desconhecia?

Rafaela estava presa nesses pensamentos quando o cheiro forte de álcool no carro a fez franzir o nariz. Benício, claramente afetado pela garrafa inteira de champanhe, estava visivelmente desconfortável.

Aquela mistura de álcool e o ar pesado no carro a fez engasgar. Ela abriu a janela para deixar o ar entrar, aliviando a sensação de náusea que começava a tomar conta dela.

Quando chegaram em casa, Rafaela chamou Xavier para ajudá-la a levar Benício até o quarto.

Xavier, ao ver o estado de Benício, comentou:

— Sra. Barbosa, vou preparar uma água de coco para ele. A senhora pode ficar de olho nele?

— Vá lá. Eu cuido dele.

Rafaela observou os lábios de Benício, que estavam ressecados e rachados. Ela se levantou para pegar um copo de água, mas, antes que pudesse sair, ouviu a voz rouca dele.

— Não vá... Não me deixe. Eu vou ficar rico. Vou me casar com você, Cíntia...

Aquelas palavras cortaram Rafaela como uma lâmina. Tudo o que ela tinha suportado naquela noite se acumulou e a jogou em um abismo sem fim.

Ela sempre acreditou que o esforço de Benício para assumir a empresa e conquistar a aprovação do avô era para construir uma vida melhor para os dois. Para apagar as feridas do passado dela, para oferecer a segurança e o amor que ela nunca teve na infância.

Ela esteve ao lado dele nos momentos mais difíceis. Ficava acordada até tarde, acompanhava-o em reuniões intermináveis, suportava festas e jantares de negócios exaustivos. Mesmo quando ele chegou ao ponto de ter uma úlcera por excesso de álcool, ela nunca reclamou.

E agora, ele dizia que todo o esforço, toda a motivação, sempre foram por causa de Cíntia.

E ela? O que Rafaela significava para ele?