Capítulo 3

Clarice sempre quis tirar tudo de Norah.

Antes, eram brinquedos e roupas.

Agora, é o marido.

Na infância, Clarice, com seu jeito meigo, ganhava mais carinho dos pais.

Norah, reservada, virou a vilã nos olhos dos pais, sempre acusada por Clarice.

– Você é a irmã mais velha, tem que ceder!

– Norah, aprenda com Clarice, seja mais doce!

– Você nasceu para nos dar trabalho!

– ...

O favoritismo dos pais marcou Norah profundamente.

Sua infância foi cinzenta.

Cresceu entre insultos e falsas acusações.

Na faculdade, fugiu de casa e conheceu Carlos.

Eram tudo um para o outro.

Norah achava que ninguém tiraria Carlos dela.

Mas hoje, ele escolheu Clarice.

Logo no aniversário de casamento!

Sem esperar nada, Norah ainda ficou magoada por ter amado tanto um homem assim.

Olhou para os pratos, sentindo náuseas.

Mesmo assim, tirou prints capturas de tela das mensagens de Clarice.

Ela não só deixaria Carlos.

Faria Carlos e Clarice pagarem, perdendo tudo e ficando desmoralizados!

As luzes da Vila Serpa ficaram acesas a noite toda.

Quando Carlos voltou, viu Norah dormindo no sofá.

Ela se protegia, mão sobre o ventre, franzia a testa, olhos vermelhos, dormindo inquieta.

Carlos ficou angustiado.

Na noite anterior, Clarice lhe enviara o exame de gravidez e chorava no telefone.

Pensou que, após três anos sem filhos, a família precisava de um herdeiro.

Ele não tinha coragem de deixar Norah passar pelos nove meses de gravidez e ver seu corpo mudar.​​

Mas se fosse a Clarice que engravidasse, ele poderia trazer a criança para Vila Serpa dois ou três anos depois, alegando adoção, e deixá-la aos cuidados de Norah.

Por isso, escolheu ficar com Clarice.

Sentiu a alegria de ser pai, uma novidade para ele.

Por um instante, pensou que Norah não servia para nada.

Três anos com ela, e nada, mas com Clarice, em três meses, tudo mudou.

Mas logo lembrou que amava Norah.

De manhã, voltou para a Vila Serpa.

Sabia que Norah ficaria brava e preparou mil desculpas.

Ao ver o rosto abatido dela, sentiu-se culpado, como se o mar o esmagasse.

Aproximou-se devagar, querendo levá-la para o quarto.

Mas, antes, Norah acordou.

Sentiu o cheiro do perfume de Carlos, mas, em vez de segurança, sentiu desconforto.

Antes gostava daquele cheiro.

Hoje, tudo mudou.

– Te acordei? – Carlos falou suavemente.

Aproximou-se e a abraçou, com olhar cheio de amor.

Norah ficou tensa, rejeitando o carinho.

Carlos percebeu e perguntou:

– Não está bem? Quer que eu chame o médico?

– Não é nada.

Norah balançou a cabeça:

– Só estou cansada... Por que demorou tanto para voltar?

– Final de ano, muito trabalho.

Norah olhou para ele, irônica.

Não é à toa que é o chefe do Grupo Serpa, mente sem corar.

– Norah, desculpe, prometi estar com você e não cumpri. Pode me bater, gritar, o que quiser, contanto que você fique bem!

Carlos a abraçou ainda mais forte, como se quisesse fundi-la em si.

Norah sentiu uma pontada no ventre, querendo se afastar.

Carlos achou que ela só estava magoada, e gostou disso, pois mostrava o quanto ela se importava.

Sorriu e ia pegar o presente que comprou para ela.

Seu celular tocou.

Norah viu que ele havia salvo Clarice como "Querida".

Ela ficou atônita, mas Carlos desligou na hora, fingindo:

– Telemarketing.

Norah não perdeu o nervosismo dele.

Ia confrontá-lo e ver sua reação:

– Você...

O celular tocou de novo.

Norah parou e observou.

Carlos, ao ler a mensagem, ficou tenso.

Tirou uma caixa de anel do bolso, levantou-se rápido.

– Amor, deixei seu presente aqui, preciso ir para a empresa resolver um problema.

Sem esperar resposta, saiu apressado.

Norah ainda sentia o calor do abraço.

Olhando para a caixa do anel, pegou o celular.

Como já suspeitava, Clarice enviara mensagens:

[Tive cólicas, pedi pro cunhado vir ficar comigo, mana, não fique brava, tá?]

[Ele me deu um anel... O que significa quando um homem dá um anel para uma mulher? Será que ele quer ficar comigo?]

[Olha, gostou do anel? Eu adorei. [foto]]

Mais uma vez, Carlos deixou Norah por Clarice.

Norah abriu a caixa e viu que era o mesmo anel da foto.

Quando ela viu exatamente o mesmo anel.

Quase riu de tanta raiva!

Carlos, que homem maravilhoso você é, dando o mesmo presente para a esposa e a amante!

Norah jogou a caixa para o lado, tentando se acalmar.

Faltavam menos de três meses para ela se livrar de Carlos de uma vez por todas!​​

Norah respirou fundo, abriu os olhos e, pela primeira vez, respondeu à mensagem de Clarice.

[Está feliz com o lixo que desprezo?]

Depois, massageou as têmporas e ignorou novas mensagens.

Tinha coisas mais importantes a fazer.

Pouco depois, foi ao hospital fazer exames.

No corredor do segundo andar, ouviu uma voz familiar:

– Carlos, Clarice está grávida, você não vai se divorciar de Norah para casar com ela? Não pode deixar a criança dela sem nome!