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Capítulo 3

Author: Sophie Andrade
Benício não voltou para casa a noite toda. Apenas à meia-noite, ele enviou uma mensagem dizendo que estava ocupado na empresa e pedindo que ela cuidasse bem de si mesma.

Rafaela leu a mensagem e apenas sentiu o gosto amargo da ironia.

Mas ela já tinha se convencido de uma coisa: não tinha mais tempo a perder com ele e Cíntia. Antes de partir, havia algo muito mais importante a fazer — realizar o último desejo de sua mãe.

Quando Rafaela chegou à empresa, notou que os colegas a olhavam de forma estranha.

— Ouvi dizer que o resultado do Projeto Horizonte já saiu, mas a responsável não é a Rafaela.

— Não é a Rafaela? Quem então? Todo mundo sabe que ela liderava esse projeto há meses! Se ela souber disso, acho que vai dar problema.

— Parece que deram o projeto para uma nova funcionária. Foi decidido hoje de manhã, na reunião dos diretores.

Ao perceberem Rafaela parada na porta, alguns desviaram o olhar e voltaram rapidamente para suas mesas.

Rafaela caminhou até sua mesa, mas, ao chegar lá, viu que todos os seus pertences haviam sido retirados.

Antes que pudesse perguntar o que estava acontecendo, ouviu uma voz feminina, delicada e suave.

— Rafaela?

Ela se virou lentamente e viu uma mulher magra, de cabelos lisos e brilhantes, vestindo um vestido branco impecável. O rosto dela era delicado, com feições pequenas e bonitas. Os olhos, grandes e brilhantes, lembravam os de um cervo assustado, despertando um instinto protetor em quem a olhasse.

Ao ver Cíntia, a expressão no rosto de Rafaela endureceu.

Os lábios delicados de Cíntia se curvaram em um sorriso, e as orelhas dela ficaram levemente coradas.

— Rafaela, quanto tempo! Agora seremos colegas de trabalho. Conto com você para me ajudar, viu?

Rafaela olhou para a mão estendida de Cíntia, depois para a mesa que antes era dela. Com passos firmes, Rafaela aproximou-se e bateu os dedos na superfície.

— O que significa isso?

Cíntia fez uma expressão inocente e a olhou com aqueles olhos brilhantes, que agora pareciam um pouco cheios de culpa. Ela começou a fazer sinais com as mãos, como se estivesse completamente perdida.

— Rafaela, me desculpe. O Benício ficou preocupado porque eu tenho alergia a poeira. Então ele decidiu me mudar para o seu escritório. Mas, se você se incomodar, posso conversar com ele para trocar de volta.

Rafaela curvou os lábios em um sorriso irônico. Era realmente engraçado. Cíntia tinha alergia a poeira, mas será que ela não podia ter também?

Antes que Rafaela pudesse responder, Cíntia virou-se, aparentemente pronta para ir até o escritório de Benício.

— Não precisa.

A voz de Rafaela cortou o ar, firme, mas controlada. Ela não gostava de forçar ninguém a fazer nada. Se o coração de Benício já não estava com ela, qualquer gesto de gentileza era apenas uma farsa sem sentido.

Cíntia se virou novamente, mas os olhos dela não conseguiam esconder o brilho de satisfação.

— Ah, Rafaela, eu sabia que você era generosa. Mas, por favor, não me entenda mal. O Benício só me trouxe para a empresa porque ele acha que você trabalha demais e quer que eu te ajude.

Rafaela apertou e soltou os dedos, um gesto quase imperceptível. O sorriso em seus lábios era cheio de sarcasmo. Era assim que Benício queria cuidar dela? Chamando a ex-namorada para dividir responsabilidades?

— Já que foi uma decisão do Benício, faça o seu melhor e não o decepcione.

Dizendo isso, Rafaela passou por Cíntia e foi direto para o escritório de Benício.

Ela abriu a porta sem bater, chamando a atenção dele. Benício levantou os olhos ao ouvir o som, e seus olhares se encontraram por alguns segundos. Rafaela desviou o olhar para os documentos sobre a mesa dele.

Quando ela estendeu a mão para pegar um dos papéis, Benício, sempre tão calmo, demonstrou um lampejo de nervosismo.

— Rafaela...

Ela olhou para o documento em suas mãos. Era o resultado do Projeto Horizonte. Rafaela havia recebido dez votos, enquanto Cíntia tinha doze. A última e mais importante decisão havia sido tomada por Benício. Ele havia dado o voto decisivo para Cíntia.

Ele havia escolhido Cíntia.

A calma de Rafaela, que beirava o gelo, fez Benício sentir-se desconfortável. Ele se levantou e caminhou até ela, segurando seu braço com a mão quente e firme.

— Rafaela, a entrada da Cíntia na empresa e na competição pelo projeto foi uma decisão dos diretores. Mesmo sendo o presidente, eu não podia interferir. Espero que você entenda a minha posição.

Rafaela sentiu um gosto amargo na boca, e seus lábios ficaram tão pálidos que parecia que todo o sangue havia desaparecido deles.

Ela não gritou nem fez cena. Estava surpreendentemente tranquila. Mas só ela sabia que seu coração já estava entorpecido de tanta dor.

Rafaela forçou um sorriso enquanto olhava para Benício. Os olhos que antes transbordavam amor agora pareciam os de um estranho.

Ela respirou fundo e ergueu o olhar para ele, com uma expressão determinada.

— E se eu disser que quero ser eu a responsável pelo Projeto Horizonte?

Quando Benício ouviu suas palavras, arqueou levemente as sobrancelhas grossas. Ele envolveu os dedos frios de Rafaela com sua mão quente e grande, em um gesto cuidadoso para acalmá-la.

— Eu sei o quanto esse projeto é importante para você e que é o desejo da sua mãe. Mas, se você pensar por outro lado, Rafaela, o mais importante é que o projeto seja um sucesso. Sua mãe, onde quer que ela esteja, ficará orgulhosa ao ver isso.

Ao ouvir aquilo, Rafaela riu.

Ela acreditava que tudo o que desejava, ele imediatamente faria por ela. Mas agora, o que ela queria mais do que qualquer coisa, ele estava recusando por causa de outra mulher.

Benício não era mais dela. Nem o corpo, nem o coração.

Rafaela respirou fundo e segurou as lágrimas, mas sua voz saiu rouca.

— Se é assim, se tanto faz quem lidera, por que não pode ser eu? Meu plano de ação não é inferior ao da Cíntia.

Benício hesitou, com uma expressão de leve desconforto. Ele apertou a mão de Rafaela como se quisesse tranquilizá-la, o polegar acariciando suavemente o dorso da mão dela.

— Rafaela, a Cíntia acabou de voltar para o país. Sem um bom histórico profissional, ela mal consegue se manter no mercado. Além disso, os pais dela não estão bem de saúde, e ninguém sabe quanto tempo ainda têm. Como colega de faculdade dela, e sabendo que você é uma pessoa generosa, imaginei que você não se importaria.

Rafaela quase riu daquilo. Era uma justificativa tão bonita, tão perfeita, que ela sentiu um gosto amargo na boca.

Ela sempre acreditou que Benício fosse gentil apenas com ela. Mas agora via claramente que sua bondade era compartilhada com qualquer um que precisasse.

Ele se preocupava com a alergia a poeira de Cíntia, mas esquecia que Rafaela também tinha problemas sérios com poeira, chegando a ter dificuldade para respirar, com risco até de morte.

Benício percebeu o silêncio incomum de Rafaela e isso o deixou inquieto. Depois de pensar um pouco, ele sugeriu:

— Rafaela, se você quiser...

— Deixa pra lá. Eu não quero mais. Você acabou de assumir a presidência, ainda não tem controle total da empresa. Existem muitos acionistas, não é algo que só você pode decidir.

Ela falou com um tom de aparente compreensão, enquanto calmamente tirava a mão da dele. Sua voz carregava um leve cansaço.

Ela sabia que, quando um homem deixa de amar, ele encontra mil desculpas para justificar suas ações. Mesmo que ela implorasse de joelhos, ele não daria o projeto para ela. Então, por que insistir?

Benício, achando que havia conseguido convencê-la, deixou escapar um suspiro de alívio.

— Que tal isso? Você se lembra daquela joia, o colar “Coração Eterno”, que você tanto queria no leilão? Em dois dias será leiloado. Eu vou comprar para você.

Rafaela forçou um sorriso ao olhar para ele.

— Ah, que bom. Mas ouvi dizer que o “Coração Eterno” é bem caro.

Ela já havia decidido que iria embora. Não queria mais aquele homem, mas dinheiro ainda era útil. E ninguém seria tolo o bastante para rejeitar dinheiro.

— Não importa o preço. Se você quer, vale a pena.

Benício, ao ver que ela aceitava, sorriu com ternura. Ele estendeu a mão e apertou suavemente a bochecha pálida de Rafaela, prestes a se inclinar para beijá-la.

Nesse momento, a porta do escritório se abriu de repente.

— Presidente Benício, os diretores estão pedindo sua presença na sala de reunião.

Cíntia apareceu na porta, com uma expressão tímida e um tom de voz quase apologético.

Benício, que estava com a mão no ombro de Rafaela, imediatamente a retirou.

— Estou indo.

Cíntia entrou no escritório com passos hesitantes, mordendo o lábio inferior. Seus olhos começaram a se encher de lágrimas, dando-lhe um ar de fragilidade. Ela fez alguns sinais simples com as mãos, parecendo nervosa.

— Benício, Rafaela... Vocês estão discutindo por causa do Projeto Horizonte? Se Rafaela quiser o projeto, eu não me importo em abrir mão.

Ao ouvir isso, Rafaela franziu levemente as sobrancelhas e respondeu com firmeza:

— Não precisa. Eu não gosto de coisas que já foram usadas por outros. Benício mostrou que valoriza sua amizade com você da época de faculdade. Então, você deve se dedicar ao Projeto Horizonte e fazer o seu melhor.

As palavras de Rafaela fizeram os olhos de Cíntia ficarem ainda mais vermelhos, quase transbordando de lágrimas. Ela estendeu a mão e puxou levemente a barra do terno de Benício, como se buscasse consolo.

— Benício, a Rafaela ainda está chateada comigo? Você pode explicar para ela? Se ela quiser ser a responsável pelo projeto, eu abro mão.

Rafaela observou a mão de Cíntia segurando a roupa de Benício. Ela sabia que ele não gostava que outras pessoas o tocassem.

Cíntia pareceu perceber que havia ultrapassado um limite e soltou a barra do terno imediatamente. Rafaela desviou o olhar, sem dizer nada.

Benício cobriu a boca com a mão e tossiu levemente, antes de falar:

— Rafaela já disse que está tudo bem. Ela não é uma pessoa rancorosa.

Depois, ele se virou para Rafaela e fez sinais com as mãos.

— Assim que a reunião terminar, eu te procuro. Podemos jantar naquela sua brasserie francesa favorita.

Ele saiu do escritório, passando por Rafaela, e seguiu ao lado de Cíntia.

Quando a porta se fechou, Rafaela pegou o plano de ação de Cíntia que estava sobre a mesa. Ao folheá-lo, soltou uma risada irônica.

O documento estava cheio de erros de digitação que nem sequer haviam sido corrigidos.
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