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Capítulo 6

Author: Felipe A.T
Como os subprojetos do Grupo Próspero tinham recebido novos pedidos, Ricardo voltou apressado para casa no dia seguinte, pegou alguns casacos e partiu para uma viagem de negócios em outra cidade. Sobre passar a noite fora, não comentou uma palavra, deixando Laura sozinha em casa.

No segundo dia após a sua partida, Laura começou a preparar a documentação necessária. Os processos acumulados durante alguns dias de folga eram tantos que ela mal conseguia respirar. Pela manhã, participou de várias reuniões seguidas e, em seguida, passou o tempo todo correndo de um departamento para outro, tratando da burocracia e fazendo as devidas transferências.

Assim que chegou em casa depois do trabalho, ela tirou a maquiagem, lavou o rosto, trocou-se rapidamente por um conjunto limpo de roupas esportivas e prendeu o cabelo de forma prática e elegante.

Saiu de casa e começou a correr devagar pela trilha do parque florestal, respirando fundo de vez em quando, sentindo-se completamente tranquila.

Depois de correr dois quilômetros, parou num banco de pedra à beira do caminho para alongar as pernas e a coluna. Fez uma série de exercícios de alongamento e ainda atendeu uma ligação de Ricardo. Ele estava fora da cidade e o barulho ao fundo era intenso, com vozes femininas prolongadas de vez em quando. Laura era extremamente sensível a esse som.

Ela lhe perguntou:

– Onde você está? Com quem?

Ricardo respondeu:

– Na fábrica de tecidos.

Laura não disse nada. Sempre detestou essa maneira de Ricardo de fugir do assunto, sabendo perfeitamente do que ela se importava, mas fingindo não entender.

Percebendo o silêncio de Laura, Ricardo tentou mudar de assunto para animá-la:

– Sentiu minha falta?

Laura cortou o clima:

– Você mal saiu, não senti.

– Tem certeza que não sentiu...

Ricardo repetiu devagar, e rapidamente fez outra pergunta:

– Você está fora? O telefone fixo de casa não atende.

Ele mudou de assunto tão rápido que Laura não acompanhou:

– Não, trabalhei o dia inteiro. Acabei de chegar em casa.

Foi então que, ao longe, uma mulher vestida com um conjunto esportivo de tricô rosa, puxando um Samoieda, veio correndo na direção dela.

No instante em que viu o rosto da mulher, Laura sentiu o sangue ferver no corpo, o coração disparar e, ao mesmo tempo, ficou estranhamente excitada.

Aquela excitação não tinha relação com alegria, era o estímulo da espera e da curiosidade, embora soubesse bem que aquilo não era coisa boa.

Apertando o celular na mão, apressou-se em dizer para o outro lado da linha:

– Estou correndo no parque perto de casa.

Ao ouvir isso, a voz de Ricardo ficou subitamente séria e um pouco tensa:

– Pare de correr, volte para casa agora.

Laura fingiu não ouvir, continuando a encarar as duas figuras que se aproximavam.

Ricardo ainda dizia algo ao telefone, mas Laura já não ouvia mais nada. Ela desligou.

Encarou a mulher que parou à sua frente:

– Olá, por acaso tem uma loja de conveniência por aqui? Acabei de me mudar e ainda não conheço o bairro.

Laura olhou para Vanessa e para o grande cão ao lado dela, exibiu um leve sorriso mostrando os dentes:

– Siga em frente, caminhe uns cem metros e vire à esquerda.

Vanessa estava vestida de forma jovial naquele dia, parecendo uma universitária que nem havia se formado ainda.

O zíper do casaco rosa estava aberto até a metade, revelando a regata preta e a clavícula saliente. Um colar de coração repousava no centro da clavícula, com pequenos diamantes brilhando. Era bem parecido com a pulseira que Laura usava.

Quando Laura terminou de falar, Vanessa agradeceu, mas não se apressou em sair:

– Você também mora por aqui? Será que somos vizinhas no mesmo condomínio?

O cão, ao ver Laura, logo começou a farejar a barra da sua calça.

Laura manteve o sorriso:

– É possível.

Em seguida, olhou para Vanessa de cima a baixo, com um olhar investigativo. Queria saber quais eram as verdadeiras intenções daquela mulher.

Vanessa não parecia ter pressa em ir embora e acabou sentando-se ao lado de Laura no banco de pedra:

– Você veio correr sozinha? Não é perigoso para uma mulher sozinha? Cadê seu namorado?

Ao terminar, como se percebesse algo, disse com um tom de desculpa:

– Ah, desculpe! É que, vendo você tão bonita, achei que tivesse namorado, por isso...

Laura não se deu ao trabalho de desmentir e respondeu em voz baixa:

– Ele está ocupado, viajou a trabalho. E você, é casada ou solteira?

Laura sabia que, para lidar com pessoas falsas, não podia ser mais falsa do que elas, senão o assunto desviaria.

Decidiu ser direta, pegando a outra de surpresa.

Estava testando, sem saber que resposta receberia. Mas, de qualquer forma, achava melhor do que rodeios.

Vanessa sorriu timidamente, olhando para baixo:

– Ainda sou solteira, mas tenho alguém que amo. Infelizmente, por alguns motivos, não estamos juntos, então fiquei sozinha esses anos.

Depois disso, levantou os olhos e olhou profundamente para Laura:

– Você entende o que quero dizer?

Laura piscou:

– Entendo. Você ainda espera por essa pessoa?

– Sim, sempre esperei! Eu acredito que um dia ele vai voltar.

Laura a encarou:

– E se ele já tiver namorada? Talvez... ele já não espere mais por você.

– Não vai acontecer.

Vanessa foi firme:

– Eu tenho meu lugar no coração dele.

– Nós ficamos juntos na faculdade, naquela época no Canadá. Todo fim de semana íamos à igreja com amigos locais, fazíamos trabalho voluntário cuidando de animais de rua, trabalhávamos para ganhar um dinheirinho extra, éramos muito apaixonados. Se não fosse por... por certos fatores, eu e ele nunca teríamos perdido esses anos.

Laura sentiu a garganta apertar:

– Você tem tanta certeza de que ele ainda te ama?

– Claro, desde que voltei ao país ele vem pavimentando minha carreira, até alugou um apartamento perto da casa dele para eu morar, só para poder cuidar de mim. Você acha que isso não é amor? Venho de uma família comum, sem nome ou fortuna, se não fosse por ele, sozinha num país estrangeiro, eu jamais teria chegado onde estou hoje.

O humor de Vanessa parecia ainda melhor, e ela falou animada:

– Por isso acho que somos feitos um para o outro, ninguém pode nos separar, ele está destinado a ficar comigo.

A brisa da noite fez Laura sentir frio por dentro e nas mãos.

Ela pensou que Vanessa tivesse se mudado para a vizinhança por vontade própria, mas não imaginava que fora Ricardo quem arranjou isso.

Repetiu então sua pergunta:

– E se ele já tiver namorada?

Dessa vez, sua voz saiu ríspida. Vanessa percebeu o tom estranho, virou-se para encarar Laura, o olhar agora frio:

– E isso tem a ver com você?

Mas Laura manteve o olhar tranquilo, calmo, em silêncio, como se estivesse determinada a ouvir a resposta de Vanessa.

Esse olhar deixou Vanessa desconcertada, e ela desviou o rosto:

– E daí se ele tem namorada? Mesmo que case, eu posso fazer com que se divorciem.

Essa última frase foi uma ameaça, e também um desafio.

Laura sorriu silenciosamente, erguendo os cantos da boca. Sentia-se curiosa em ver alguém tão determinado a desempenhar o papel de amante.

Vendo o Samoieda correr livremente ao longe, Laura de repente gritou:

– Nuno!

O Samoieda ouviu o chamado e correu rapidamente para ela.

O cão rodeou Laura, abanando a língua, e apoiou as patas dianteiras nas pernas dela. Laura pegou carinhosamente as patas de Nuno e as colocou sobre as próprias pernas, coçando o queixo do cachorro:

– Você ainda se lembra de mim?

O rosto de Vanessa ficou imediatamente rígido, uma expressão de pânico, surpresa, completamente inesperada.

Foi um momento de satisfação para Laura. Ela acariciou a cabeça do cachorro, abraçou-o por um tempo, depois o colocou no chão, enquanto Vanessa permaneceu em silêncio o tempo todo.
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