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Capítulo 2

Author: Joana Oliveira
Sofia permaneceu por alguns instantes parada, encarando-a com intensidade, como se buscasse uma verdade que não queria ouvir.

— Quando fez aquele acordo comigo, não foi isso que me disse. Então, está mesmo pensando em voltar atrás?

Luana sentiu o peso da pergunta; a resposta já lhe queimava no peito.

— Sim, acho que estou. — Ela admitiu, com a voz baixa, carregando a amargura que engolia devagar. — Decepcionei a senhora, vovó.

Sofia fechou os olhos por um momento e respirou fundo, como quem decidia deixar cair uma questão que já não tinha volta.

— Esqueça. Se quer se divorciar, que se divorcie. Eu te dei uma oportunidade. Você não conseguiu fazer Ricardo se apaixonar por você, então a família Ferraz não te deve mais nada.

O aperto no peito de Luana veio rápido e dolorido. Ainda assim, ela sorriu com um tremor na voz.

— Obrigada.

...

De volta ao condomínio Bela Vista, o destino pareceu pregar uma peça. Justo na entrada do prédio, ela cruzou com Vanessa, o filho dela e Ricardo.

Pelos olhares, ficou claro que os dois haviam voltado juntos no carro dele.

Luana hesitou por um segundo, surpresa.

Vanessa arregalou os olhos e perguntou:

— Dra. Luana? A senhora também mora em Bela Vista?

Instintivamente, Luana olhou para Ricardo. Ele, porém, se manteve impassível, como se a presença dela fosse irrelevante. Aquela indiferença, a cada vez mais evidente, era como um corte silencioso no coração dela.

Bela Vista ficava no segundo anel de Oeiras, um condomínio de luxo pertencente ao Grupo Ferraz. O apartamento onde Luana morava era apresentado por Ricardo como uma compensação. Por ser perto do hospital, ela havia aceitado. Nunca, porém, imaginou que ele arranjaria um lugar no mesmo condomínio para Vanessa e o filho dela.

Uma rapidez que feria.

— É, coincidência mesmo. — Luana respondeu, controlando o que sentia para poder seguir caminho.

Mas Vanessa não deixou o assunto morrer.

— Dra. Luana, ouvi dizer que a senhora é casada. Por que nunca vi o seu marido?

O corpo de Luana enrijeceu num instante.

Marido?

Ela desviou o olhar para Ricardo, percebendo o setor de sombra que surgiu nos olhos dele. A cena lhe provocou um sorriso interno. Então era esse o medo dele, que Vanessa descobrisse a ligação entre eles?

Sem se alterar, ela respondeu:

— Eu não tenho marido.

O olhar sempre calmo de Ricardo pareceu vacilar por um instante.

— Não tem marido? Mas a senhora não é casada? — Insistiu Vanessa, ainda sorrindo.

De fato, no cadastro do hospital, Luana constava como "casada", mas ninguém jamais havia visto o tal marido. Sustentando o sorriso irônico, ela encerrou:

— Aquilo foi só uma brincadeira na ficha. Não tenho marido algum.

Os olhos de Ricardo se estreitaram num gesto perigoso.

Porém, como Luana já havia pedido demissão e estava decidida a partir, não via mais sentido em manter segredos. Sem olhar para trás, entrou no prédio.

...

À noite, organizou todas as suas coisas pessoais. Duas malas grandes ficaram cheias no closet. O olhar pousou na moldura da foto do casamento. Ela, de vestido de noiva, abraçava Ricardo com um sorriso radiante, enquanto ele mantinha o semblante fechado.

Antes, acreditava que ele apenas não tinha o hábito de sorrir. Aquela única foto dos dois, guardava como um tesouro. Agora, percebia que guardava era uma ironia. Não se tratava de ele não gostar de sorrir; a verdade era que ela nunca mereceu aquele sorriso.

Pegou a moldura, olhou uma última vez e a colocou numa caixa de papelão com outras coisas que resolvia deixar para trás.

Ao sair do quarto, ouviu o som da porta da sala. Sabia quem era. Ricardo havia chegado. Ele pendurava o paletó no cabideiro e trocava os sapatos ao entrar.

Luana respirou fundo, caminhou até ele.

— Sobre o que aconteceu hoje... você não tem nada a dizer? — A pergunta carregava não apenas o encontro com Vanessa, mas também o fato de ele ter colocado os dois ali em Bela Vista.

Ricardo afrouxou a gravata, com o olhar distante e frio.

— Explicar o quê? Bela Vista fica perto do hospital. Se você pode morar aqui, por que eles também não? — Ele pendurou a gravata no braço e a encarou diretamente. — Luana, você já conseguiu o que queria. Não seja mesquinha.

As palavras foram como gelo descendo pelo corpo dela. Mesquinha?

Na visão dele, ela havia conquistado o título de senhora Ferraz e agora implicava com Vanessa e o filho. Era, portanto, mesquinharia.

Virou-se para voltar ao quarto, mas Luana o deteve.

— Precisamos conversar.

Ele parou, girou o corpo com impaciência, olhando para ele sem um traço de emoção.

— O que é agora?

— Vamos nos divorciar. — Disse ela, retirando lentamente a aliança do dedo e fechando a mão. — Vou te devolver a sua liberdade.
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