MasukVanessa tinha o tímpano necrosado e descolado devido a um trauma externo violento, mas se recusava a passar pela cirurgia, aguardando qualquer brecha para fugir daquele hospital. Até aquele momento, ela acreditava que as responsáveis por sua desgraça eram aquelas malditas mulheres, mas a cruel verdade estava ali, diante de seus olhos. O autor de seu sofrimento era ninguém menos que o homem que, no passado, a protegia com tanto zelo.Embora soubesse do ódio que Ricardo nutria por ela, Vanessa se recusava a acreditar que ele pudesse ser tão impiedoso. Afinal, ele havia a libertado antes. Ela se iludia pensando que ainda restava, no fundo daquele coração gelado, uma migalha de afeto ou compaixão.Como os homens eram ridículos, o amor que juravam sentir desaparecia num estalar de dedos, transformando-se em nada.As lágrimas escorreram pelo rosto de Vanessa, mas seus olhos, em vez de tristeza, emanavam agora um ódio visceral. Essa fúria a impulsionou a agarrar um objeto pesado sobre a mesa
Enquanto isso, no quarto do hospital, Vanessa segurava um pequeno espelho de mão. Ela passava o batom com cuidado, tentando resgatar um pouco de dignidade. Mesmo sem a maquiagem impecável de outrora, ela queria estar apresentável para enfrentar Ricardo.A enfermeira se aproximou do leito e puxou as cortinas, revelando a figura que acabara de entrar.A silhueta alta e imponente do homem invadiu o campo de visão de Vanessa. O rosto de Ricardo, com traços marcantes e frios, parecia ainda mais opressor e belo do que ela se lembrava.— Achei que você não viria. — Vanessa sorriu, mas seus olhos carregavam uma mistura de esperança e um ressentimento amargo. — Disseram que você está com câncer. Fiquei pensando aqui comigo... Será que isso conta como algum tipo de castigo divino?Ricardo a observava sem alterar a expressão, impassível diante da provocação.— Pela sua aparência, vejo que você também não tem tido dias fáceis, não é?Ela hesitou, o sorriso vacilando por um segundo, mas logo estend
Valentino não mordeu a isca da provocação anterior. Ignorando o comentário, ele mudou o foco da conversa com frieza:— Sr. Fernando, o senhor retornou ao país há pouco tempo, não é?— Tem razão. Faz tão pouco tempo que voltei, e ainda assim, muitas pessoas e situações mudaram drasticamente. — Concordou Fernando, dando um sorriso enigmático. Seus olhos percorreram Luana de forma demorada e carregada de subentendidos. — Eu sequer sabia que o Hospital Regional de Riviera tinha contratado uma médica tão bela.Luana se forçou a manter a compostura, sentindo o coração acelerar. No momento em que soube que o sobrenome dele era Oliveira, já havia deduzido sua identidade. Embora ele tivesse laços com Júlio, Luana raciocinou que, na época do incidente traumático do passado, Fernando devia ter a mesma idade de Valentino. Eles eram pessoas diferentes, afinal de contas, e ela não deveria projetar seus medos nele.Respirando fundo para estabilizar a voz, ela respondeu:— Sr. Fernando, é muita gentil
— Meu irmão, ele... — Felícia começou a explicar, mas foi interrompida pelo toque do celular. Ao ver o nome na tela, atendeu prontamente. — Valentino, pode ficar tranquilo. Vou deixar a Sra. Luana em segurança no destino.Não se sabe o que Valentino disse do outro lado da linha, mas uma expressão de pesar cruzou o rosto de Felícia antes que ela concordasse e encerrasse a chamada.Aproveitando a pausa, Luana retomou o assunto:— Sobre o que você estava dizendo antes...Felícia abriu um sorriso enigmático e desconversou:— Esse segredo é melhor você perguntar a ele pessoalmente, não acha?Luana preferiu não insistir e o silêncio voltou a reinar no veículo....Ao retornar ao hotel, mal havia saído do elevador quando Luana cruzou com dois homens no corredor. De imediato, os rostos lhe pareceram familiares, e num segundo olhar, a memória veio à tona. Eram os policiais encarregados da custódia de Vanessa.Luana passou por eles sem diminuir o passo, mas virou a cabeça para observá-los entran
Recuperando-se de seus pensamentos, Gustavo assentiu com aprovação ao ouvir a proposta da neta.— De fato, é raro a Luana vir nos visitar. Já que está aqui, fique e coma conosco. — Reforçou o patriarca.Sem jeito de recusar tamanha hospitalidade e a pressão gentil de Gustavo, Luana acabou aceitando o convite.Quando chegou a hora do almoço, a atmosfera na sala de jantar mudou sutilmente com a chegada de Isabela, que retornava da empresa seguida de perto por Lívia. Isabela lançou um olhar rápido, quase clínico, sobre Luana, mas desviou os olhos imediatamente, como se a presença da convidada fosse irrelevante, e puxou a cadeira para se sentar à mesa com altivez.— O Celso ainda está na empresa? — Indagou Gustavo.Isabela pegou os talheres e começou a organizar seu prato com movimentos precisos.— Ele está resolvendo algumas pendências e só voltará mais tarde. — Respondeu ela, antes de voltar sua atenção para a visita com uma cortesia fria e calculada. — O almoço está do seu agrado?Luana
A expressão de Luana escureceu imediatamente. Ela sabia perfeitamente que os Alencar pertenciam à elite e que a futura esposa de Valentino deveria vir de uma família à altura, compatível com o status deles. Ela não era ingênua quanto a isso. Porém, a arrogância e o tom de voz daquela funcionária eram intragáveis, despertando nela uma irritação profunda.Quando Luana abriu a boca para dar uma resposta à altura, uma voz ecoou vinda da entrada do cômodo, interrompendo a tensão.— Lívia, você não tem autoridade para falar pelo meu irmão, muito menos para decidir algo por ele, tem?Lívia congelou num instante e, visivelmente constrangida, recuou um passo para o lado.— Senhorita... Felícia.Senhorita? Luana desviou o olhar para a jovem que entrava no aposento com passos leves e graciosos. Ela parecia ter pouco mais de vinte anos, com longos cabelos lisos e negros em um corte estilo princesa, que lhe conferiam a aparência de uma boneca de porcelana, realçando sua pele alva e imaculada como m