Após A Minha Morte, Todos Começaram A Me Amar
Eu, Glória Gomes, morri no dia em que recebi o Prêmio de Ouro Global de Doutorado em Medicina.
Três horas após minha morte, meus pais, meu irmão mais velho e meu noivo voltaram para casa, logo depois de encerrarem a festa de dezesseis anos da minha irmã.
Enquanto minha irmã postava nas redes sociais uma foto de toda a família comemorando seu aniversário, eu estava deitada em uma poça de sangue no porão abafado, tentando usar a língua para deslizar pela tela do celular e fazer uma chamada de emergência.
Dos contatos de emergência, apenas meu noivo atendeu à minha ligação — o que significava que meus pais e meu irmão haviam bloqueado meu número.
Assim que atendeu, meu noivo disse apenas uma frase: — Glória, a festa de dezesseis anos da Ester é importante. Pare de tentar chamar nossa atenção com desculpas inúteis e de fazer birra!
Ele desligou o telefone, cortando também minha última esperança de vida. Meu coração parou de bater junto com o som da linha ocupada.
Foi a centésima vez que eles escolheram minha irmã, a centésima vez que me abandonaram e me decepcionaram, e também a última.
Deitada em meu próprio sangue, senti minha respiração cessar aos poucos...
Eles pensaram que, desta vez, eu estava novamente usando uma desculpa para fugir de casa e expressar minha insatisfação, que, se me dessem uma lição, eu voltaria obedientemente por conta própria, como nas 99 vezes anteriores.
Infelizmente, desta vez, isso não aconteceria.
Porque eu não saí de casa.
Eu estava o tempo todo deitada no porão...