capítulo 2

Consegui acessar as gravações e passei a manhã inteira vendo os registros do último mês.

Como eu suspeitava, lá estava ele levando Gleice pra passear várias vezes, falando abertamente sobre ir pra hotel.

E pior: consegui ouvir os dois transando dentro do carro.

— Eli, será que não é errado? — A voz da Gleice era doce e melosa, provocante.

Era por isso que Eliel tinha se encantado por ela naquela época — a voz.

— Errado por quê? Não sente saudade de mim? Ficamos tantos anos longe um do outro.

— Claro que sinto... hmm... Eli, assim... você faz tão bem...

— E ainda nem comecei. Espera só.

Não consegui mais ouvir.

Desci do carro correndo e vomitei tudo.

Quem diria que eu tinha amado esse homem por sete anos. Sete anos jogados no lixo.

Naquele instante, a chama da vingança se acendeu dentro de mim e só crescia.

As lembranças da vida passada voltaram com força.

Depois que contei a Eliel que Gleice tinha HIV, ele surtou, gritou comigo e foi embora.

Nunca mais voltou pra casa. Nunca mais me procurou.

Só soube dele pelas redes sociais.

Aparecia todos os dias com Gleice, exibindo felicidade.

Postavam fotos da gravidez, dos momentos juntos.

Pareciam o casal mais feliz do mundo.

Eu? Eu fui pro fundo do poço.

Pouco tempo depois, um paciente que tinha passado por uma cirurgia de apendicite feita por mim e estava se recuperando bem... morreu de repente.

O caso explodiu na internet.

Todo mundo dizia que a culpa era minha, que eu tinha cometido um erro.

A família do paciente fez escândalo no hospital.

Fui afastada e colocada sob investigação.

Na autópsia, encontraram uma tesoura dentro do abdômen do paciente.

Coincidentemente, ou talvez não, as câmeras da sala de cirurgia tinham parado de funcionar justo naquele dia.

Os médicos, o anestesista, os assistentes... todos disseram que só eu tinha tocado naquela tesoura.

Não tive como me defender. Fui condenada.

Mas como eu estava grávida, teria que esperar o nascimento do bebê para cumprir a pena.

Naquele momento, senti como se o céu tivesse desabado sobre mim.

Pouco depois, Eliel apareceu. Veio me buscar e me levou pra casa.

Naquela noite, ele foi incrivelmente gentil.

Comprou meu bolo preferido, esquentou leite pra mim antes de dormir.

Me abraçou com carinho, a voz suave como nunca.

— Toma, bebe o leite e dorme tranquila. O resto eu resolvo pra você. — Disse ele, me embalando nos braços.

E eu acreditei. Bebi o leite.

Menos de vinte minutos depois, comecei a sentir algo estranho. Sangue quente escorria por entre as minhas pernas.

Empalideci na hora. Agarrei o braço de Eliel, desesperada, pedindo que me levasse ao hospital.

Mas ele respondeu com um chute. Direto na minha barriga.

Depois outro. E mais outro.

Sorriu de canto:

— Fui eu quem pagou pra eles te acusarem de erro médico. Sabe, Selene... tem gente que, por dinheiro, aceita até morrer. Os pobres fazem qualquer coisa por um trocado. Hahaha...

Meus olhos se arregalaram. A visão embaralhou.

Ele riu, sarcástico:

— Todos eles estavam no meu bolso. E agora, você só precisa morrer. Coloquei abortivo no seu leite. Hahahaha...

Na sequência, outro chute — mais forte que todos os anteriores.

Vi o sangue jorrar pelas minhas pernas, vivo, quente, cruel.

Na minha última consciência, ouvi a voz dele sussurrando:

— Agora ninguém mais vai atrapalhar meu final feliz com a Glei.

Jamais esqueceria aquela dor e o desespero que me engoliu naquela noite.

Copiei os vídeos do gravador do carro para um pendrive.

E fui direto procurar um advogado. Entrei com um processo contra Eliel por traição durante o casamento.

Exigi que saísse de mãos vazias.