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Capítulo 6

Author: Joana Oliveira
— Você já é adulta, Luana. Ainda vai perder tempo discutindo com uma criança? — A voz de Ricardo saiu carregada de reprovação.

O choque tomou conta dela. Não era surpresa ele não acreditar, mas a parcialidade escancarada com que defendia o garoto a feriu mais do que gostaria de admitir. O calor subiu aos olhos e as lágrimas ameaçaram transbordar, porém, ela as engoliu com força.

— Eu não empurrei ele! — Luana afirmou, com a voz firme, mas carregada de dor.

Ricardo soltou um riso frio.

— Então, segundo você, uma criança de poucos anos resolveu se jogar no chão para te incriminar?

O coração dela estremecia a cada palavra. Sabia que ele não acreditaria, por isso não conseguia entender por que ainda tentava se explicar. Baixou os olhos, buscando respirar fundo e recuperar o controle.

— Foi apenas má sorte cruzar o caminho de vocês hoje. Satisfeito agora? — Ela disse, virando-se para ir embora.

— Pare aí.

Ela obedeceu, mas manteve as costas para ele.

— O Leo é só uma criança. Não precisa brigar com ele. — O tom dele suavizou por um instante, embora continuasse carregado de autoridade. — Peça desculpas para o Leo.

— Ricardo, não precisa... — Vanessa interveio de forma apaziguadora, tentando defendê-la.

Ele lançou um olhar gelado para ela.

— Quem faz algo errado deve pedir desculpas.

Luana fechou os punhos com tanta força que as unhas quase perfuraram a pele, mas não parecia sentir a dor. Lentamente, virou-se para encará-lo nos olhos. Sem desviar o olhar, apontou para a câmera de segurança presa ao poste mais próximo.

— Bela Vista está cheio de câmeras. Antes de bancar o justiceiro, por que não olha as gravações? Se nelas aparecer que errei, pedirei desculpas. Mas, se não for culpa minha, esqueça essa ideia. — Luana declarou com firmeza.

Sem esperar resposta, ela deu meia-volta e saiu.

O peito de Ricardo se fechou em um aperto repentino, e seu rosto escureceu.

Ao ouvir a referência às câmeras, Vanessa sentiu o pânico crescer. Não podia, de forma alguma, permitir que ele fosse verificar. Agarrou o braço dele rapidamente.

— Ricardo, deixa para lá. O Leo não se machucou, e tenho certeza de que a Dra. Luana não fez nada de propósito. — Sem lhe dar tempo para pensar, Vanessa mudou de assunto. — O Leo vai acabar se atrasando. É melhor irmos logo.

Ele soltou o braço e respondeu de forma seca:

— Já avisei a diretora. Leva o Leo até lá. Ela vai lidar com a situação. Tenho uma reunião.

Virou as costas e se dirigiu direto ao carro.

Vanessa permaneceu parada, observando o veículo se afastar, com as mãos tensas. Só então percebeu que ainda segurava o braço de Leonardo com força.

— Mamãe, está doendo. — Reclamou o menino, tentando se soltar.

Ela recobrou a consciência do que estava fazendo, se agachou diante dele e segurou seus ombros, os olhos refletindo uma mistura sombria de satisfação e cálculo.

— Leo, você se saiu muito bem desta vez. Estou orgulhosa.

— É mesmo? — Perguntou ele, piscando confuso.

Não entendia muito bem a situação, mas já aprendia que receber elogios da mãe significava que havia feito algo que a deixava feliz.

Vanessa afagou o rosto do filho e, com um sorriso aparentemente doce, deixou transparecer uma determinação fria.

— Você também quer que o Ricardo vire seu pai, não quer?

O garoto assentiu com empolgação.

— Então precisa conquistar o Ricardo, fazê-lo gostar cada vez mais de você. Entendeu?

Ele abriu um sorriso animado.

— Vou fazer isso!

...

Assim que Ricardo chegou à empresa, a assistente Fernanda o interceptou.

— Sr. Ricardo, sua avó está aguardando no seu escritório.

Ele fez um breve aceno afirmativo e entrou.

Sofia estava sentada com elegância no sofá, segurando uma xícara de chá. Assim que ele se aproximou, ela ergueu o olhar.

— Fiquei sabendo que você levou aquela mulher, a tal Vanessa, para o hospital em que a Luana trabalha. — Ela disse, sem rodeios.

Ricardo afrouxou a gravata e se sentou diante dela.

— A Luana veio reclamar?

Sofia colocou a xícara na mesa com um estalo seco e respondeu de forma severa:

— Ricardo, pare de desconfiar da sua esposa por qualquer mínima situação. Você acha mesmo que a Luana é do tipo que corre para fazer fofoca?

— E não é? — Ele sorriu com frieza, retrucando a avó, o semblante endurecendo. — Eu não me esqueci de como ela casou comigo, nem de como a senhora me obrigou a se casar com ela.

Sofia soltou uma breve risada carregada de desprezo.

— Se a Luana realmente reclamasse, você acha que Vanessa teria conseguido voltar ao país?

Ricardo ficou em silêncio por alguns instantes antes de encará-la com firmeza.

— Não mexa mais com ela.

O riso de Sofia agora trazia raiva.

— Essa mulher aceitou dez milhões e te deixou. Que virtude pode ter uma interesseira dessas?

— Se a senhora não tivesse interferido, ela teria ido embora? — Rebateu ele, com a voz baixa, mas carregada.

— Você... — Sofia pareceu se lembrar de algo, e um sorriso lento se formou em seus lábios antes que ela se levantasse com serenidade calculada. — Ricardo, você está confundindo vidro com diamante. Um dia vai se arrepender. Não vou mais interferir entre você e a Luana. Se quiser se divorciar, faça isso. O problema será seu.

Sem esperar resposta, ela deixou o escritório.

Ricardo apertou o maxilar, o olhar mergulhado em uma sombra espessa.

Arrependimento? Como poderia se arrepender?

Luana já tinha a riqueza e a posição que sempre quis. Ele tinha certeza de que ela não seria capaz de abandoná-lo. Não... Ela não conseguia viver sem ele.
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