Capítulo 0006

Olhei de relance para a tela e reconheci de imediato. Era mesmo o meu anúncio. Eu tinha colocado um valor bem baixo, e no mesmo dia da postagem, o item já havia sido vendido. Soltei um sorriso discreto e improvisei:

— Não era o meu, Rogério. A Sofia e o marido dela não haviam comprado um par igual? Ela quer trocar tudo por um modelo mais novo e me pediu para cuidar da venda.

Ele franziu a testa, meio desconfiado, mas logo suavizou o olhar.

— É mesmo? — Ele murmurou, parecendo ainda incerto. Em seguida, desviou o olhar, deixando transparecer um afeto contido. — Aurora, andei muito ocupado ultimamente e talvez não tenha dado a devida atenção aos seus sentimentos. Se estiver chateada com alguma coisa, por favor, me fale, está bem?

Baixei os olhos e respondi baixinho:

— Tá.

Ele se aproximou com cuidado, me envolvendo num abraço como se eu fosse algo precioso.

— Depois que minha mãe ficou muito doente e faleceu no ano passado, só me restou você. Acredite em mim. Não importa o que aconteça, você é a pessoa mais importante da minha vida.

Eu acreditava, Rogério. Antes, eu acreditava de todo o coração. Inspirei a suave fragrância de rosas que vinha dele e murmurei:

— Já está tarde, talvez você devesse tomar um banho e descansar.

No entanto, Rogério me apertou mais forte e encostou o queixo no topo da minha cabeça:

— Me dá só mais uns minutos. Aurora, você anda tão pensativa. Assim que eu terminar umas pendências, vamos sentar e conversar com calma, tudo bem?

Deixei escapar um leve sorriso, enquanto os pensamentos me fugiam para o que eu já sabia. Ele precisava de tempo para comprar bolo para a Renata e preparar um carro cheio de rosas como surpresa. Precisava fazer tudo isso sem eu perceber, e ainda me manter tranquila. Realmente não devia estar sendo fácil.

Ele olhou para mim de cima a baixo, reparando em meus olhos vermelhos e perguntando:

— Você estava chorando? O que aconteceu?

— Eu... — Eu ia responder, mas de repente o celular dele tocou.

Rogério largou meu braço e atendeu já saindo do cômodo. Não sei o que disseram do outro lado da linha, mas seu rosto empalideceu em segundos. Mesmo com o vento gelado de fim de outono entrando pelas frestas da janela, ele correu lá para fora só de camisa, sem pegar nenhum casaco.

Meu reflexo foi chamá-lo:

— Rogério!

Ele nem pareceu ouvir. A última vez em que o vi tão desesperado assim foi quando o hospital emitiu o aviso de risco de morte para a mãe dele. Caminhei até a janela e fiquei olhando o carro esportivo preto arrancar apressado, engolido pela escuridão da noite. Ecoava ainda em meus ouvidos a frase que ele dissera momentos atrás: "Aurora, você é a pessoa mais importante da minha vida".

Mas, para mim, já não importava mais.

Nos dias seguintes, estive cheia de compromissos. Não demoraria para eu partir, então aproveitei para ver todos os amigos que precisava, em uma espécie de despedida. Naquela noite, peguei uma caneta marcadora e, após um instante de hesitação, tracei mais um risco no calendário. O dia seguinte era o aniversário do Rogério e, ao mesmo tempo, meu último dia naquela cidade.

Eu até encomendei um bolo de aniversário para ele, mas depois recortei todas as fotos nossas penduradas na parede e joguei os pedaços no lixo. Tudo o que tinha a ver comigo, apaguei por completo daquela casa.

Talvez por não ter tomado meus remédios nos horários corretos, acordei na manhã seguinte com uma dor de estômago lancinante.

Me lembrei de como foi o começo da nossa empresa, quando éramos só eu e o Rogério. A gente virava dia e noite trabalhando dentro do escritório, comendo e dormindo por lá. E, para mostrar ao meu pai que ele podia confiar no Rogério, após me formar, não aceitei mais nenhum centavo da família.

Quando faltava dinheiro, dividíamos um pacote de macarrão instantâneo entre nós dois. À noite, eu ainda precisava acompanhá-lo em eventos, bebendo por ele, já que ele não aguentava álcool.

Uma vez, passei dos limites, tive uma úlcera e acabei no hospital. O médico deu uma bronca nele, e o Rogério, um homem de quase um metro e noventa, ficou com os olhos tão vermelhos que parecia chorar. Foi então que ele disse que eu passava por sacrifícios demais por estar com ele, e jurava, solene, que nunca mais me trairia.

Só agora entendia que promessas não eram garantidas nem no minuto em que foram ditas.

Comi um pedaço de torrada e tomei um comprimido, mas o alívio não veio logo. Pelo contrário, a dor aumentou. Acabei me encolhendo no sofá, suando frio. Peguei o celular e tentei ligar para o Rogério. Nenhuma resposta. Pelo visto, ele realmente estava muito ocupado, nem tempo tinha para atender a chamada da namorada.

Foi apenas quando Sofia me ligou que descobri que ele não aparecia na empresa havia dias e que uma pilha de documentos e projetos pela metade se acumulava, esperando a assinatura dele. Ela estava aflita e repreendeu:

— Aurora, o Rogério está completamente tomado pela paixão, e você também vai deixar as coisas desandarem desse jeito? Vocês não podem largar a empresa assim, ainda mais agora, irritando clientes e sócios. Por favor, convence ele a dar as caras o quanto antes!

Ela parou um instante e voltou a falar, ansiosa:

— E tem mais, fiquei sabendo que o Sr. Leon, do Investimentos Sagaz, vai se casar semana que vem. Seria ótimo se o Rogério conseguisse um convite e fosse até a capital para marcar presença. Se o Leon der um sinal de aprovação, nossa abertura de capital vira praticamente uma certeza!

Meu estômago estava em chamas, mas a última frase me fez despertar na hora.

— Espera... Você disse que a pessoa da Investimentos Sagaz se chama Leon?

— Isso, Leon!