Peixinha
Grávida de nove meses, vi a amada do meu marido se mudar para a nossa casa com uma desculpa qualquer.
Ela fingia sofrimento sempre que me via, e ele me acusava de exibir a barriga só para provocá-la.
— A Rafa já sofre demais! E você ainda exibe essa barriga enorme só pra machucar! Só vai aprender se eu te der uma lição. — Rosnou ele, com frieza.
Sem hesitar, mandou me trancar no sótão e proibiu qualquer um de me trazer comida.
Supliquei, dizendo que os gêmeos estavam grandes, que o médico havia pedido minha internação urgente, pois o parto podia acontecer a qualquer momento.
Mas ele apenas riu como se eu estivesse contando alguma piada tola.
— Ainda faltam três dias pro parto. Não inventa desculpa para escapar! Vai pro sótão pensar bem no que você fez! Isso é o mínimo, depois do que fez com a Rafa! — Ele insistiu, ignorando completamente a minha dor.
No sótão escuro, gritei até minhas unhas se quebrarem na porta. No silêncio sufocante, as contrações rasgavam meu corpo, cada onda de dor parecia não ter fim.
Coberta de sangue, exausta e ainda presa, percebi que meu filho não sobreviveria.
Três dias depois, enquanto tentava tomar um mingau, meu marido, já incomodado, comentou com desprezo:
— Manda a Joyce descer para me preparar o mingau, e depois vá pedir desculpas à Rafa. Se ela pedir de um jeito decente, pode até levar ela pro hospital na hora de parir.
Mas ninguém respondeu, pois o sangue já escorria do sótão, degrau por degrau, inundando a casa num silêncio mais aterrador que qualquer grito.